Eu gosto de abacaxi, mas desde menina convivo com o fato chato de que o abacaxi é um fruto que me provoca aftas.
E aftas ardem e doem, rsrsrsrs...
Passei minha vida desafiando o abacaxi, dizendo a ele: "Olha,
eu vou te comer e desta vez não vai acontecer nada, meu organismo vai achar um
jeito de vencer essa reação e eu vou finalmente comê-lo sem nenhum
arrependimento”.
Comer ou não comer? Eis a questão.
Às vezes consigo abrir mão do meu desejo, às vezes não. Então pago
o preço do desconforto, do incomodo, só pra poder provar o gosto. As aftas vêm
e depois vão embora, eu ignoro a presença delas, desprezo a dor, não amorteço,
não tomo remédios, não evito o tempo certo de virem e irem, não faço nada, não
me privo de nada, convivo com elas e esfrego na cara delas minha duradoura
satisfação em ter comido o fruto proibido.
Valeu à pena. Não sei por que meu corpo rejeita, não sei por que,
mas já não me interessa mais saber, eu vou apenas comer quando a vontade bater
e o problema é meu, somente meu...
Não me compadeço com esse sofrimento, não ligo, experimento por
algumas semanas a ferida em minha boca, experimento a ferida, ela me deixa mais
calada, ela me deixa um pouco amuada, fico sentido o ardido da pasta de dente,
do molho de macarrão, da mexerica e de outras presenças da minha rotina que
ficam alteradas durante a permanência das aftas. O abacaxi fere a minha boca.
Fecho a boca, penso que quando meu corpo quer muito comer abacaxi é porque
tenho falado demais, comido demais, aberto demais a boca para vida e então me
preparo para os resguardos que o abacaxi promove. Eu amo o abacaxi.
Quando alguém me convida a comer uma fatia de abacaxi, fico a
pensar se não haveria um jeito de comê-lo sem precisar comer de verdade. Será
que posso comer sem comer? Posso sentir o gosto sem provar? Posso sonhar
que estou comendo e em sonho ficar saciada? Posso sentir o cheiro e imaginar
que estou comendo?
Não, não posso.
Acreditem ou não, sinto a boca rachar só de olhar para ele...
Aceito a reação do abacaxi no meu corpo. Aceito a mudança no meu
corpo que o abacaxi me oferece.
Não sinto pena de mim. Não sinto arrependimento. Comer é uma
escolha consciente.
Um silêncio em minha boca...
Deixo para os incomodados e os desconfortados, a tarefa que
antecede a minha degustação.
Deixo para os fortes e os valentes, a afiada faca que corta e
descasca o abacaxi.
Eu simplesmente como, já descascado, bem servido, cortado.
Como, mas não descasco, aliás, se precisar descascar, desisto
imediatamente e me sirvo de outro fruto, substituo. Pois se para ficar calada
eu ainda tiver que enfrentar a faca, deixo pra depois.
A vontade passa... Vou comer pêssegos, pêras, maçãs ou ameixas.
Ah... E ameixas também provocam reações em meu corpo que me
oferecem muitas desintoxicações!!!
Aceito!
é tenso, pois comigo também acontece isso, até suco de abacaxi que é muito bom , quando bebo o suco no mesmo dia as aftas vem a aparecer isso é muito ruim , queria uma solução sobre isso também... obrigado
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