Foto de Viviane Fracari |
Eu conheço um caminho, li num livro, fiz uma viagem, conheci uma
mulher, sei sobre uma lenda, já escrevi em um poema, trabalhei com uma pessoa,
um amigo me contou, tem um filme que eu vi, já sofri de uma dor, me ofereceram
uma fruta, sei uns passos dessa dança, já cantei essa canção, dirijo automóvel
e até um caminhão, já desci nessa estação, entrei nesse museu, venho há anos
neste parque, tinha uma árvore ali, cortaram, hoje tem outra bem pequena aqui,
replantaram, eu acho.
Terminei e comecei
milhões de vezes, entre um sol e uma lua, entre uma porta e outra, entre um ano
velho e um ano novo, fiz muitos inícios, vivi muitos fins, infinitos fins,
términos intermináveis, couberam muitas tentativas dentro das horas, dos dias,
dos anos velhos em que me renovo.
Só posso saber o
quanto sei na medida do quanto ando.
Só posso saber o
quanto sei na medida do quanto caio.
Só posso saber o
quanto sei na medida do quanto me levanto.
Só posso saber o
quanto sei na medida do quanto me lanço, me jogo, me ergo, me solto...
E para saber sobre
o que não sei é preciso não querer saber, é preciso apenas saber o que alma
curiosa pretende conhecer, é preciso apenas um corpo aventureiro com desejos
simples e raros, desejos de alimento e gozo, de carinho e conforto, de
movimento e silêncio harmonioso. E tudo isso, que também é pouco, só se sabe
quando já não se é moço, quando já se pronunciaram as rugas, quando já se
embranqueceu a fronte, quando já há uma promessa de velocidade média no ritmo
da pressa.
Tenho um filho, já
moço, um ex menino, um quase homem, um fazer-se humano dentro do tempo que nos
amadurece. Esse filho, que ora cresce, ora se apavora com as cobranças do fim
da infância, vai saber sobre não ser, vai conhecer um trauma, receber uma
notícia, quebrar uma louça, tropeçar numa pedra, escorregar no molhado, vai se
lembrar de um abraço, vai acordar de um sonho, vai comprar flores, vai escrever
cartões, vai rasgar fotografias, vai queimar poesias.
Vou aplaudir seu
andar sobre a terra, seus buracos e crateras, suas areias à beira mar, suas
rochas, suas montanhas íngremes, seus desertos áridos, suas casas, quantas
forem, suas famílias, quantas, seus amigos, quantos, seus projetos, o quase, o
desastre, o sucesso. Cada caminho tem seu dono, cada anjo seu guardado ser humano.
Tem um anjo que guarda meu filho e que dá a bandeirada de largada desta corrida
que começa acelerada e que termina num respirar profundo, num ganhar mais fôlego
para desfrutar tudo que é aprendido, a matemática das contas, o português das
broncas, a química dos corpos, a física dos astros, a biologia empírica, a
filosofia, a arte e a magia... Filho de bruxa, bruxinho é...
Abracadabrasaramalé.
Faz esse meu filho ser quem ele é!!!
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