Lia todas.
Sabia-as de cor.
A quantidade de xícaras, as medidas, colheres de sopa ou de café.
Quantos ovos...
O tempo de preparo.
O ponto.
Sabia de cor o ponto.
Nunca tinha feito nenhum bolo, mas conhecia as receitas na ponta
de língua.
Belo dia resolveu ir para cozinha, vestiu o avental e colocou em
prática seu vasto conhecimento.
Queimou bolos, cortou o dedo, explodiu a panela de pressão,
quebrou pratos, desandou massas.
E de tanto desandar de lá para cá pela cozinha, aprendeu a
cozinhar.
Passou a criar, inventou sabores e subverteu os procedimentos.
Pensou em escrever seu próprio livro de receitas, mas se
desinteressou, dispensou...
Achou melhor compartilhar seu saber à mesa.
Convidou os vizinhos, os parentes, os amigos e também uns
desconhecidos.
Pouco a pouco sua comida caiu no agrado de todos.
Caiu na ponta da língua, nos lábios, no céu da boca, na boca do
estômago.
Satisfeita em dividir nos pratos as quantidades justas de sua
fartura, releu as receitas.
E foi como se nunca as tivesse lido.
Pareciam-lhe inéditas.TEXTO INSPIRADO NA SEQUÊNCIA: PAPISA - MAGO - IMPERATRIZ - JUSTIÇA.
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