Morta. Enterrada. Vestiram-na com a roupa que ela mais gostava.
Estava muito branca, Pintaram-lhe a cara. Dormiu exausta e levou junto ao seu sono o desenganado tempo vivido, mas que sabia ela, ter sido tudo aquilo parte de um compromisso. Viveu comprometida com a vontade que tinha de amar. E amou até o último suspiro, cumpriu seu compromisso. Até alí, viveu o que tinha de ser vivido. Um amor que se acabou, que partiu para dar lugar a outro que estaria ainda por chegar.
Em outro tempo acordaria tão viva, tão corada e descansada. Começaria então uma nova jornada.
Não lembraria de nada...Não lembraria mais da dor que sentiu no peito no momento em que seu coração se viu obrigado a parar de bater, pois batia em vão, suas batidas já não tinham razão de assistir, de pulsarem naquela direção. Abriu mão do seu amor, sacrificou...Foi tanta dor. Por isso ela será poupada de reviver toda essa mágoa, não lembrará de nada. Acordará feliz e apaixonada.
Abrirá a janela, irá arrumar a cama, lavar o rosto, tomar café e agradecer, sem perceber, à morte, por ter lhe concedido ainda em vida a possibilidade de nascer de novo e ainda por cima, mais bonita.
Seja bem-vindo! Os textos publicados são inspirados na linguagem pictórica não-verbal do Tarô. "O baralho de Marselha nos chega desacompanhado de um texto explicativo. Em vez disso, oferece-nos simplesmente uma história pela imagem, uma canção sem palavras, que nos acode ao espírito como um velho refrão, evocando lembranças sepultadas" (Sallie Nichols). Textos: Adriana Azenha. Fotos: Viviane Fracari. O Blog deu origem ao espetáculo teatral O MIOLO DA MISSIVA.