sexta-feira, 31 de maio de 2013

A CARTA FINAL | O AMOR TEIMOSO

Quantas vezes as mulheres sonham com encontros solares.
Encontros às claras.
Verdades nas falas, sinceros olhares: como uma história da infância, uma fraqueza, um gesto desengonçado.
Um encontro ensolarado.
Mulheres sonham com pastéis na feira, com passeios no parque, com milho cozido na praia e sexo pela manhã com a cara bem amassada, o hálito comprometido, as vergonhas... e desvergonhas minutos depois.
Elas sonham...
Sonham com um sorriso rindo da piada sem graça, da tropicada na calçada, do tombo de bicicleta, da mancha de molho de macarrão no canto da boca.
Sonham com um abraço terno em tardes de despedidas do sol e da partida que se prolonga em beijos e mãos nas costas e pontas de pé e sussurros ao pé do ouvido e arrepios, cabelos, pescoço, seios aquecidos ao peito, que seja qual for o tamanho, é sempre largo no desmaio das que sonham acordadas atrás de seus óculos escuros a protegê-las dos descarado e escancarado sol.
O sol do trabalho, das compras no mercado, das portas das escolas, das filas no banco, das bancas de jornal anunciando o dia.
Encontros diurnos.
Quantas vezes as mulheres sonham com o rei de copas.
Seus presentes em caixas com formato de coração.
Seus perfumes adocicados, suas frases cheias de otimismo e esperança.
Mulheres sonham com paixões impossíveis e finais felizes.
Mulheres sonham com promessas de alianças, com flores, cartões e lembranças das datas do primeiro encontro, beijo, segredo, do primeiro medo, da última briga, do recomeço. 
Ah, como elas sonham com as pazes, as chances, os perdões, as reconciliações...
Sonham!
Sonham que se enganam e choram suas perdas e confiam na recompensa da paixão renovada, que em algum lugar há de estar sendo preparada e elas sonham que se não for pra hoje é porque a encomenda atrasou-se.
Culpa do carteiro se amor ainda não chegou ao seu endereço.
Elas confiam e esperam o fim da greve dos correios, sonham...
Quantas vezes as mulheres sonham despertar do pesadelo de não sonhar.
Não, mulheres temem que algum monstro sombrio diga: "Cai na real, acorda!!!"
Mulheres morrem de amor...
O amor morre junto com elas. Elas e o amor são uma coisa única.
Toda a mulher é amor. Essencialmente feitas todas elas de amor.
Entre muitas mulheres, soube de uma que hoje nos deixou, morreu de amor...
Desejou ela que o amor morresse, mas ele resistiu bravamente.
Então ela se matou, foi o jeito que encontrou, disse: "Ou EU ou o AMOR".
E como amor venceu, ela faleceu.
Sem dor, simplesmente morreu.
E amor sem ter onde se fazer, por onde existir...
O amor que era belo, também se acabou?
Não sei, talvez vagueie solitário em busca de uma outra mulher que suporte sustentar um amor teimoso.
Quantas vezes as mulheres sonham suportar!!!

Inspirado na sequência: A Imperatriz, O Sol, O Enamorado, A Morte.

Despois de ler, ouça a canção:
https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=BO_g5Ocr4K0