domingo, 24 de julho de 2011

Carta Crua para Keila Redondo | DESMASCARADA

Aleluia, Aleluia, Aleluia!!!
Sua moradia, um casulo, pequenos aposentos para grandes recolhimentos.
Aconchego. 
Casa, comida, roupa lavada.
Crisálida. 
Chave.
Escada. 
É bom poder contratar uma empregada.
Gerar emprego, ser camarada, ter mais tempo, ser dedicada ao próprio empreendimento.
Para tal investimento, aplicou seus recursos no resgate do assunto silenciado.
Um assunto que ficou por tanto tempo amordaçado, de tão assustado, começou a balbuciar palavras desordenadas e procurou aos poucos formular uma frase inteira, palavras cruzadas na busca de serem reveladas.
Uma dica, uma pergunta, uma saída?
Ficará remoendo o assunto para que o um novo tema fortaleça sua questão.
Aplicará seu aprendizado de imersão no desconfortável convívio com o incompatível, em divertimento e riso.
A temática do feminino transformada em graça e piada, em canção debochada, em didática representação, na epopeia da heroica reconstrução.
Depois de calada, virá a fala multiplicada, depois de quase esquecida, virá a rememorada imitação da vida.
Palmas, palmas, sons dos aplausos celebrando a vitória sobre sua própria máscara desencaixada, a máscara não servia na atriz. Difícil exercício de improviso, atuar com uma máscara emprestada. Fim do ridículo espetáculo. Máscara derrotada, atriz com a face exposta, livre para vestir sua identidade, para ser uma nova personagem.
E lá está ela sentada na cadeira da escritora, na cadeira da diretora, na cadeira do restaurante, na cadeira da praia, na cadeira de balanço lendo histórias para seu filho.
Uma pausa, para olhar para o filho.
Para o filho, a máscara da mãe sempre lhe caiu bem, para o filho, ela sempre esteve compatível, para o filho, a vida sempre imitou sua arte e sua arte sempre imitou sua vida. Para o filho, todas as escolhas foram boas, todas as tentativas foram dignas, todas as atitudes coerentes com seu amor prudente.
O filho foi gerado no equilíbrio do sonho bem aventurado. Aleluia! Aleluia! Aleluia!
Ela está sentada na cadeira de sua casa, trabalhando, estudando, aperfeiçoando seu artesanato, projetando um futuro que já se desenhou na vontade, no desejo e na coragem de mudar.
Mãe e filho caminham à beira mar...em frente, pisando e marcando na areia o tempo presente.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A Carta Crua | UNIDADE

Para os pés frios, um escalda pés...
Sou o bem que faço pra mim, gosto de ser amável.
Para cada mal-estar que encontro, abro uma sacola, retiro uma bola, começo a jogar.
Boliche, ping pong, golf ou bilhar?
Dois ou par?
Um ou ímpar?
Quando eu não estou é porque alguém me chamou pra conversar.
Eu vou, mas volto já. 
As conversas liberam as palavras, que depois de despejadas, são calmamente separadas.
As que foram ditas das que foram rezadas, as que foram traduzidas das que foram mal interpretadas.
Novamente a sacola: frutas, iscas, lanternas, trilhas.
Brincar de andar, meus passos são dados por uma perna que já foi e por outra que ainda está por vir, e entre uma perna e outra tem uma perna oca que, sem ser perna, misteriosamente caminha.
Rabo de gato.
Pênis de cachorro que lambe o próprio saco.
Cinco ou quatro?
Um no centro do quadrado ou o quadrado com o um no centro elevado?
Ele está no meio de nós e sobre nós: "Corações ao alto!"
Confiar pra poder amar.
Amar pra presenciar.
Um ótimo caminhar de volta ao lar.
Passo e ando, passeado...