domingo, 13 de fevereiro de 2011

TROCANDO DE PELE

Ilustrado por ViviS

Impressionante como foi delicado e demorado o período de preparo para a troca de pele, pois na pele havia ficado gravado por um longo período: sensações, marcas profundas por contatos frequentes, posições, movimentos condicionados, formatos testados e aprovados, finalizações previsívies e poucas iniciativas que desacostumassem a pele de suas conhecidas digitais. 
Trocar a pele, desgrudar, descascar, descamar. Livrar-se completamente da memória tátil e sentir a suavidade da novidade da pele inaugural, a pele recém chegada, a camada lisa e fina sobre a carne, superfície semi-anestesiada, pele vazia, virgem, nunca antes tocada.
Podia-se vê-la branca ou meio rosada. 
E agora, de pele nova, ela experimentava calmamente, nos lábios, na palma da mão e na sola do pé, tatianndo de olhos fechados, o território pouco explorado, o desconhecido, os surpreendentes relevos, odores e sabores que causavam-lhe euforia e êxtase adolescente. Sentia o corpo quente, a nova pele atraia como um imã os compatívies elementos e estabecia  respeitosamente a ordem de chegada dos reagentes.
À flor da pele ela reestabelecia seus critérios de atração e reação, de atuação e de observação e também de escolha justa dos representantes yn e yang de sua vida de iniciante. Queria gravar na pele nova: inesperados abraços, beijos desprogramados, leves toques de dedos, fortes apertos, firmes pulsos, grossa saliva, línguas sobre a pele, a pele das línguas, memórias...
Ela espera estar pronta pra armazenar na casa nova, a lembrança da primeira visita, fotografar sua permanência, alimentar sua presença, recebê-la sem nenhuma referência.
Ela espera, pacientemente, enquanto toma banho com seu cheiroso sabonete, enquanto passa creme, perfume, adstringente e óleos essenciais. Ela espera que sua pele absorva uma pele outra, tão curiosa e atenciosa, quanto sua pele nova. Aguardemos!