quinta-feira, 10 de novembro de 2011

CARTA CRUA | Peso Pena



Quantos vieram me chamar?
Eram muitos e sei que eram bons.

Foto de Viviane Fracari

Então está concluído. 
Não há resposta que o tempo não dê.
Não há apelo que não possa ser feito.
Tenho oito ferraduras para oito patas. 
Sou veloz e astuta como uma aranha a tecer a teia.
É tempo de armazenar o alimento.
Entrei com a apelação, consegui a redução da pena.
Agora pesa menos que a peninha da asa de uma andorinha.
Ficou leve, fiz a transferência do fardo, ficou nas costas de outro condenado, não carrego mais, deixei para trás.
Desejo que o fardo, esteja ele onde estiver, seja aos poucos aliviado.
Que seja leve para todos, que sejamos todos condenados a viver sem a cólera, sem precisar de misericórdia.






Minhas oito pernas são mais rápidas que minhas ideias.
Chegam antes meus passos, quando vejo já estou dentro de um novo espaço.
Chegam antes meus pés, minha cabeça chega apenas para contemplar a fincada bandeira sobre a terra seca.
Vitória! Conquista! Sou guerreira, talvez muito antes de ser sereia.
Obá xirê!
Seja bem-vinda sua cavalaria.
Estou no governo do estado novo.
Vou nomear meus ministros e dar pão e circo ao meu povo.
Farei meu pronunciamento em cadeia nacional.
Cantem hinos, soltem fogos, proclamem comigo.
Pois com as mãos no peito e o olhar elevado, respeito com devoção a hasteada bandeira da minha renovação.