sábado, 28 de dezembro de 2013

A CARTA DA CASA | "Lupus est homo homini non homo" (Plauto).


Para  HOMENS.

Inspirado na sequência: A FORÇA - O DIABO - A PAPISA - A JUSTIÇA.

O homem é o lobo do próprio homem.
E se um homem quer o que o outro homem também quer,
lobos brigam,
lobos sangram,
lobos morrem.

Um homem abre mão de seu desejo e dá ao lobo do outro seu fígado, seu coração, suas tripas.
E o desejo permanece faminto.
Mais tarde além de querer, ele descobre que tem poder.
Ele se apodera da coisa desejada, na força, na marra.
E se ele pode, ele compra a coisa, ele paga.


O outro lobo, quando pode menos, lambe os beiços, chupa o dedo e come lentamente a si mesmo.
Dê ao lobo o que lhe é de direito.
O lobo no homem divide o conteúdo do pote.
O lobo no homem é o homem.
Ensina teu lobo a pensar.
Ensina teu homem a farejar, rastrear, atacar.
Bota teu lobo pra estudar, ler, pesquisar.
Bota teu homem pra urinar nos cantos, demarcando terreno, protegendo a cria, alimentado a matilha.
O homem dorme na cama.
O lobo na cama não consegue dormir.
Deixa dar meia-noite pro lobo ser todo o homem.
Lua cheia. Cheio.
Lobisomem.
Deixe que ele uive madrugada adentro.
Para que o homem desperte leve, para que não pese mais que uma pena, seu puro coração.


Com amor

Adriana Azenha