sábado, 9 de fevereiro de 2013

A CARTA DA CASA | Eu não sabia.

Inspirado  na sequência: A Imperatriz / A Papisa / O Imperador / O Mundo.
Para Raquel Soares do Amaral.



foto de Viviane Fracari



Estive de braços dados com todas as outras que sou num passeio longo e intenso.
Tive olhos apenas para as muitas que fui. Olhos para dentro de tudo o que agora sei.
Sei para mim e para todas as outras que sou.
Fiquei debruçada sobre o saber como sou e sobre o saber das muitas que sou.
Sou.
Soube.
Alguém bate a minha porta.
Digo por favor, para que espere, pois estou terminando de não saber nada sobre mim, sobre as outras, sobre mim, sobre as muitas. 



Estou terminando de não saber.
Quando não souber mais nada, quando tudo estiver desaprendido, vou abrir a porta para o punho forte que bate com insistência.
Já vai! Já vai, estou quase terminando de Não Saber.
Pronto!  Já não sei mais nada.
Nada.
Abro a porta e vou ao encontro da razão, do domínio lógico, da estratégia, do combate.
Vou à luta!
Vou conquistar, desbravar, tomar posse!
Vou tomar posse, me apoderar, me encorajar.
Tenho o poder de não saber.
E por isso posso errar, e sem querer saber, posso então, acertar.
Passo pela porta com mais segurança, já andei por tantas cordas bambas, já caí, já levantei, já doeu, já me curei...
Vou me arriscar e ver o que há para além do conhecido e brincar de ser o que não sou.
Vou como uma criança, mas como uma criança que ouviu atentamente os conselhos de sua mãe e que lembra de alguns provérbios de seu pai.
Uma criança preparada para a liberdade que lhe foi dada.
Livre e amparada.

Com amor,
Adriana Azenha.