domingo, 13 de outubro de 2013

A CARTA DA CASA | Sacola de Praia

Para: Elisandra Mariko Takamine
Inspirado na Sequência: O SOL - A MORTE - A JUSTIÇA - O LOUCO

Foto: Viviane Fracari
Já passava do meio-dia...
O filtro solar não dava para dois.
Então passei um pouco nas costas do outro para proteger.
E o outro passou um pouco em meu peito para me proteger.
Minhas costas expostas.
Teu peito exposto.
Mais tarde as costas queimadas.
Mais tarde o peito ardendo.
Mais tarde o incômodo, a dor, o desconforto.
Pele morta.
...
Pele nova nas minhas costas.
Pele nova no teu peito.
Pensei dividir o quanto tinha, pensei que assim melhor seria.
Pensei não ser egoísta: protegendo-me inteira e te expondo a dor.
O que pensei pouco importou.
Nas minhas costas crescem asas.
No teu peito nascem espinhos.
Com as asas vôo para outras praias.
O sol sempre vai arder.
Na minha sacola tem óculos escuro, água, chapéu, e uma bisnaga de filtro solar novinha.
Eu já sabia o que levar na minha sacola.
Visitei muitas praias, já ardi debaixo de muito sol.
Não posso prever a sacola do outro, não posso.
Quanto mais desprevenida do outro estou, mais longe posso chegar.
Arranca com uma pinça os espinhos do teu peito e antes de seguir por outras praias prepara tua sacola.
Pode ser que a praia esteja deserta e que não encontres ninguém para dividir contigo proteção.

Com Amor,
Adriana Azenha.