sábado, 25 de dezembro de 2010

na intimidade do quarto Dela

A senhora do tempo e vento deixou  que a lua iluminasse a noite escura. Foi uma noite festejada com o riso da molecada, com a brisa das boas palavras, com as canções que embalam filhos, casais e boêmios eventuais. Já sabíamos que um ciclo seria concluído, foram feitos muitos pedidos de fé, piedade, muitos suplícios. Os pedidos foram sendo atendidos, um por um, de acordo com a prioridade das chaves que abririam as portas, que dariam para outras portas e depois outras, até que se chegasse a porta do quarto de dormir. Neste aposento os pedidos podiam ser atendidos, mas para isso, o sono e a vigília teriam de conviver no mesmo tempo e espaço, o quê sabemos tratar-se de algo raro, mágico, pouco provável. No entanto temos notícias através das missivas, que os pedidos se realizam, num plano invisível e que a última súplica demorou a chegar, pois inúmeras portas tiveram de ser abertas até que se chegasse ao quarto Dela, o quarto onde eternamente está  a Guardiã dos sonhos acordados, dos sonhos avisados, das anunciações, das revelações. Pois bem, é Ela que determina a quantidade de areia das ampulhetas, o giro do ponteiro na esfera do destino. E se confiarmos na sua experiência de enxergar quando as pálpebras se põem a baixar, de apontar caminhos exatamente no instante em que perdemos os sentidos, ela nos mostrará o espelho onde se pode ver o rosto verdadeiro. Podemos nos ver de corpo inteiro, dançarinos nus, satisfeitos com a plenitude dos nossos desejos. Livres, destemidos, desculpados, desavergonhados. O pedido será atendido no momento exato e sabe-se que já está sendo confeccionado na roca dos amores, na intimidade do quarto Dela.
A porta foi aberta...