sábado, 12 de março de 2011

Cala Boca

Agora Ela vai se pronunciar.

Sabotagem!

Não preciso pronunciar meu nome, poderia usar qualquer um, de qualquer país, de qualquer ilha, canto qualquer do mundo. Um nome qualquer de qualquer mulher pronta para dar um belo de um pontapé na porta e arrombar a privacidade, acabar de uma vez por todas com os segredos, com os silêncios, com os bons modos e com as conversas ao pé do ouvido das quais eu nunca participo.

Estou irritada, mas vou conter minha ira para relatar os detalhes da missiva.

Ousadia e competência. Fiz tudo com total domínio do indomável.
Não sou domesticável, não sou contida, não faço economias, não corto as palavras ao meio, gosto de dizê-las inteiras, de pronunciá-las em alto e claro tom.

Eu disse entorpecida pelo “Martino de Chile” palavras e mais palavras, misturadas com risadas e gargalhadas e alguns poucos palavrões, disse sinceramente coisas boas de serem ouvidas, coisas engraçadas, coisas poéticas, românticas e proféticas, disse asneiras, besteiras, falei pelos cotovelos e sabia que eu só me calaria frente a um beijo.

Um verdadeiro “cala a boca” que demorou a chegar e que poderia ter se prolongado muito mais do que o imaginado, muito mais do que o de fato, executado.

E o resultado?

Deixamos pra depois? Há o depois?

Então é assim... eu supero minha fraqueza, arrisco minha cabeça, ofereço uma surpresa, uma verdadeira lista de delicadezas, com pequeninos detalhes, um passeio, uma hora do recreio, com merenda, brincadeira, diga um verso bem bonito, diga adeus a vá embora: “sou pequenina, da perna grossa, saia curta, papai não gosta”.

Não gosta? Não gosta mesmo? Pena, que pena, que peninha eu tenho dessa preguiça que imobiliza e paralisa a ação. O quê que nos impede de seguirmos na mesma direção?

Nada!!! Eu chego e você me recebe, me entrega o cetro, eu me sento no trono do nosso castelo, os subalternos nos servem, os músicos tocam as canções que encomendamos. Você até dança, come gorgonzola com castanhas e no dia seguinte lembro-me de que brindamos. À que brindamos?

Ao fim? Ao que poderia ser? Ao triste desencontro?

Vou entrar nesse quarto e vou quebrar tudo. Vou botar pra quebrar!

Quero continuar jogando, quero a revanche, quero fazer minhas apostas, eu vou virar a banca, vou botar o cassino à baixo. Eu dou as cartas. Entendeu a piada?

Vou repetir: “eu dou as cartas”.