quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Desapego


foto Vi Vis
 
Desapegada de tudo, consolou os inconformados que choravam o leite derramado e recebeu do alado mensageiro o mapa da encruzilhada, agradeceu e curiosamente foi ao encontro do remetente.

Ele estava a sua espera com o tridente na mão a ameaçar os condenados, os culpados, os exilados acorrentados, eternamente submetidos aos seus cuidados, pois tratavam-se de homens de pensamentos envelhecidos e de mulheres de sentimentos envaidecidos.

Ela se comportou bem no banco dos réus, jurou dizer a verdade, nada mais que a verdade e disse com coragem que merecia a liberdade, mesmo tendo cometido um crime terrível, mesmo tendo confessado sua participação no assassinato, ela foi convincente junto aos jurados e depois de tê-los consolado, estava finalmente livre pra encarar o chifrudo simpático.

Ele recebeu-a com um abraço, ela então desamarrou os velhos pensamentos, retirou as algemas dos pulsos dos vaidosos sentimentos e convidou-os a dançar ao sol. Dançaram, suaram, riram e mudaram.

Ela também havia mudado, tinha finalmente desapegado do passado, da imagem do crime, da morte dolorosa de sua própria alma torta. Não sentiu falta, e preenchida de novos pensamentos e de humildes sentimentos, harmonizou-se com o tempo que concedeu a ela o equilibrado peso de seu coração com a leve pena da compensação.

Assim começa...