terça-feira, 7 de junho de 2011

Carta Crua | Diálogo com Aristóteles

O quê exatamente mudou?
Dê uma resposta exata. Consegue?


Eu mudei.


O que?


Eu mudei.


Eu não perguntei "quem?". Eu perguntei "o que?".
Faça uma lista das mudanças.


Então tá. Nada, nada mudou.


A mulher mudou, olhe bem pra ela.


Estou olhando.


O que você vê?


Silêncio, apreensão, medo, recolhimento, escuridão.


Não, olhe ao seu lado, quem vem? 
Eu direi: esclarecimento, direção, diálogo, estímulo, observação.


Mas e o que eu não vejo? E o que eu não lembro, o quê desconheço?


Aceite, se deixe, se entregue, respeite.
Então, de novo, me responda: Se o que mudou foi a mulher, quem é a mulher?


Ainda não sei. Eu não vejo a mudança. O problema é o "onde", mudar implica em sair do lugar.
Estou estacionada.


Não, você está em você, esse é o novo lugar, e você é a nova mulher. Você está no seu lugar. Seu corpo, sua presença, seu tempo, seu ritmo, seu movimento. Você se movimenta!
Se assim for entendido, você pode estar em todo o lugar. Onde você quer estar?


Como eu quero estar? Como? 


Por enquanto você precisa gostar de estar, se conforte no desconforto, transforme o incômodo em um parceiro esplêndido, não feche os olhos, não olhe só para frente, olhe também pra trás. Recorde com alegria, comemore tudo que já passou, lembre sempre de comemorar o passado. O melhor a ser feito é festejar o passado. Experiente fazer as pazes com as lembranças, todas elas, as feias, as belas, são todas lembranças, se foram, partiram... agora olhe pra frente e não imagine nada, simplesmente saiba, que lá na frente há o vazio, o inexistente. O vácuo a espera do preenchimento, da chegada do tempo presente. Agora responda sua pergunta: Como você quer estar?


Presente.