terça-feira, 30 de outubro de 2012

A CENA DA IMPERATRIZ: Experimento nº 3 - Transe em Trânsito

O TEATRO DO TARÔ | A CAIXINHA PRETA



(Som de buzinas, aceleradores, motos. Uma mulher está dentro de um carro, aparentemente sozinha. O carro está parado num cruzamento de muito movimento. É fim de tarde, A mulher está provocando um grande congestionamento de veículos. Ela está atrapalhando o tráfego. Surge Maurício, um guarda de trânsito, ele aborda a mulher com o intuito de organizar o caos provocado pela Mulher).

Maurício (batendo no vidro do carro, tentando se comunicar): Moça, algum problema? Posso ajudar? A senhora está passando mal? Precisa de ajuda?

(A mulher dentro do carro parece não dar muita atenção para Maurício, está falando sozinha, parece confusa, um pouco transtornada. Uma menina de 11 anos, que estava deitada no banco de trás, levanta e abre o vidro do carro. A criança estava dormindo e acorda com as batidas que Maurício dá no vidro).

Menina (para mãe, abrindo o vidro): Mãe, o homem está falando com a senhora, presta atenção. O que está acontecendo? (para Maurício) Minha mãe às vezes faz isso, eu não gosto quando ela faz isso.

A Mulher: Eu estou em dúvida.

Menina (para Maurício): Então, é isso, quando ela fica em dúvida, ela para.

Maurício: Mas a senhora não pode ficar parada aqui. Para onde a senhora precisa ir? Eu posso ajudar, encoste o carro naquele posto da esquina e depois eu posso ajudar a senhora a chegar ao seu destino.

Menina: Pode?

Maurício: Posso.

Mulher: Eu não vou sair daqui, eu não consigo.

Maurício: A senhora quer que eu ligue para alguém? Quer avisar alguém?

Mulher (procurando o celular): Eu não sei onde está o celular. Eu perdi.

Menina: Está aqui comigo mãe! Eu dormi encima dele. Eu vou ligar pro Tio Carlos.

Maurício: Quem é Tio Carlos?

Mulher: Não sei.


Menina: É meu tio, o irmão da minha mãe.

(a menina liga, alguém atende, ela começa a falar ao telefone, enquanto isso, Maurício desesperado tenta organizar o fluxo dos automóveis, o caos se intensifica).

Menina (ao telefone): Oi Tio, sou eu, a Tati. Mais ou menos. A mamãe não sai do lugar. A gente está... não sei... (pergunta para Maurício) Onde a gente está?

Maurício: No cruzamento da Brasil com a Augusta.

Menina: Na Brasil com a Augusta. Você pode vir aqui tio? Está bem, beijo tio. (desliga o celular).

Mulher: Eu quero descer do carro.

Maurício: Faz assim, a senhora me entrega a chave e eu levo seu carro até o posto da esquina, eu já disse para senhora, seu carro não pode ficar parado aqui!

(a mulher abre a porta e desce do carro. A Menina desce logo atrás, elas começam a discutir. Maurício entra no carro e senta no banco do motorista, a porta ainda está aberta).

Mulher: Eu vou embora a pé.

Menina: Para com isso mãe! Fica aqui! O Tio Carlos já está chegando...

Mulher: Eu vou pela calçada, pode deixar, não vou atrapalhar mais ninguém!

Menina: E eu mãe? O quê que eu faço?

Mulher: Volta a dormir minha filha.

Menina: Não mãe! Quem está dormindo é a senhora! A senhora é que vai sair andando por essa calçada feito uma sonâmbula.

(a mãe desmaia e cai no colo de Maurício que está dentro do carro tentando dar a partida. Chega Tio Carlos, um pouco nervoso).

Tio Carlos (para Menina): Que é isso Tati? O que está acontecendo aqui? Que confusão é essa?

Menina: Mamãe desmaiou.

Maurício: Desculpe senhor, mas preciso tirar o carro daqui urgente. Não podemos mais ficar aqui parados!

Tio Carlos (dando tapinhas suaves no rosto da Mulher): Sandra, Sandra, sou eu, Carlos, venha, me abrace, vamos sair daqui, venha, você precisa descansar, vamos para minha casa... (para Maurício) O senhor pode nos levar, eu não dirijo, se o senhor puder nos levar, serei muito grato!

(Tio Carlos entra no banco traseiro junto com a Mulher que aos poucos vai voltando à consciência, a menina senta-se no banco do passageiro, à frente).

Maurício: Onde fica sua casa, Sr. Carlos? Eu estou à serviço, não posso me demorar...

Menina: É aqui pertinho, eu sei onde é, eu te explico. Tio Carlos mora logo ali, perto da Nossa Senhora do Brasil. Ele veio a pé! O tio Carlos não tem carro, ele detesta dirigir!

Mulher: Quando chegarmos, eu posso tomar um banho?

Tio Carlos: Pode, claro, vou fazer um caldo de mandioquinha para vocês. Você precisa se alimentar.

Menina: Eu dou banho na mamãe (para Maurício) Na casa do Tio Carlos tem uma banheira enorme. (para Tio Carlos) Posso fazer bastante espuma tio? (Para Mulher) Posso lavar seu cabelo mãe? Adoro lavar os cabelos da mamãe...

(Maurício estaciona em frente à casa de Tio Carlos).

Mulher: Obrigada seu Maurício. Obrigada por tudo! Eu precisei parar, nem sempre sigo o fluxo, nem sempre... Bom trabalho para o senhor...

(todos descem do carro, Maurício se despede).

FIM.


















quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A Cena da Imperatriz: Experimento nº 2 | A Boticária.



(A cena se passa na Botica de Epífana, uma Mulher está aguardando para ser atendida, cheiro de cânfora e outras essências).

Epífana: Você gosta do cheiro? Gosta de sentir o cheiro das coisas?

A Mulher: Eu gosto do cheiro das ervas, dos temperos. E esse cheiro? É alecrim?

Epífana: É, mas não é para comer.

Mulher: Eu sei... Está tão perfumado...

Epífana: Eu vou jogar um pouco de água na sua cabeça, feche os olhos e imagine que a água escorre por um funil e escoa para um fundo infinito. (jogando a água). Onde dói?

Mulher: Dói a perna direta, bem encima do joelho, no fim da cocha...

Epífana: E a cabeça? Dói?

Mulher: O que causa a dor na perna talvez seja a cabeça. A cabeça é que faz doer as pernas. Eu me sinto como um pássaro que tem uma perna quebrada, nada me impede de voar, mas na hora do pouso, na hora de aterrissar... É sempre tão difícil!

Epífana: Você gosta de álcool?

Mulher: Não, eu não bebo, eu não fumo, eu não cometo excessos, eu me alimento muito bem...

Epífana: Você faz força em excesso, é esforço! Vou preparar algo para você beber, fique tranquila, é de baixo teor alcoólico.

(A Mulher pega o copo e bebe o conteúdo num gole só. Então começa a derrubar as coisas, os móveis, os quadros, fica em descontrole, A Mulher sente-se como um Popeye quando come espinafre).

Epífana: Vai, continua, não para! Vai até o fim. Quando você pensa que acabou, não acabou ainda, você precisa ir até o fim! Você precisa cair!!!

(Epífana empurra a Mulher que cai em queda livre, sua queda é imaginária, ela fica de olhos fechados deitada no chão, grita como se estivesse caindo, caindo, caindo... Ela cai em si mesma, fica imóvel e relaxada, parece estar dormindo de barriga para cima).

Epífana: Pode abrir os olhos. (entrega um copo de água para a Mulher). Beba um pouco desta água e depois pode ir...

Mulher: Que bagunça que eu fiz, quer que eu arrume? Eu quebrei alguma coisa?

Epífana: É assim mesmo, não se preocupe com isso agora, pode ir...

Mulher: Eu vou, eu estou um pouco tonta, mas eu sei que vai ficar tudo bem. Eu sei!

Epífana: Cuidado ao sair, não tropece em nada, olhe por onde você anda, o que não foi ao chão deve permanecer como está, o que tinha que cair ao chão, no chão vai ficar. Saia do jogo como uma vareta preta quando é retirada do meio das varetas coloridos num  jogo de"pega varetas". Saia com calma e precisão.

(Quando a Mulher está saindo, ela quase derruba a mesa onde estão as essências de Epífana, a Mulher se assusta, olha para Epífana, pede desculpas e sai).


Uma narrativa para pantomíma:  

,uma menina estava sentada debaixo de uma árvore frondosa, ela desenhava pássaros num caderno, de repente, de cima da árvore, caiu sobre ela um balde de água. Ela ficou toda molhada, sua roupa, seu caderno... Tentou subir na árvore para ver se descobria a origem do balde. Ela não conseguia subir, escorregava, pois sua roupa estava muito molhada. Quando já estava desistindo, a árvore começou a balançar e uma Gorila começou a descer da árvore, ela ficou assustada. Então, a Gorila pegou o balde vazio e colocou-o sobre a cabeça da menina. A Gorila segurou na mão da menina e conduziu-a, guiando-a pelo vasto campo. A menina se sentia tão segura que se entregou a experiência e se deixou levar. A Gorila corria puxando-a pela mão, mais tarde, quando se cansou da brincadeira, foi embora. A menina ficou sozinha com o balde na cabeça. Começou então uma forte ventania, tão forte que tirou seus pés do chão, o balde foi arrancado de sua cabeça com a força do vento. O vento fez com que ela voasse tão alto, que quando recuperou a visão, estava a voar entre pássaros, os mesmos pássaros que ela desenhava em seu caderno...




saiba mais:

http://issuu.com/lander_house_of_art/docs/projeto_imperatriz_0.5/1








domingo, 14 de outubro de 2012

Uma Cena para A Carta Curta na Caixa Preta | Aro 26.






(A cena se passa na calçada em frente à uma bicicletaria, uma Moça conversa com o Bicicleteiro que montou a bicicleta que ela deixou para regular).

Bicicleteiro: Ficou em 18 reais tudo. O aro é 26. Então veja se o banco está na altura do seu quadril? Aqui está o manual de instruções, qualquer dúvida eu estou por aqui.

A Moça: Deixa eu dar uma voltinha pra ver se eu ainda sei pedalar.

Bicicleteiro: Claro que sabe. Depois que a gente aprende a andar de bicicleta não esquece mais, é só um pouco de treino e logo você já está andando do mesmo jeito que andava quando tinha 12 anos.

A Moça: Quando eu tinha 12 nos eu brincava de descer ladeiras, uma vez levei um tombaço, acabei com minha bicicleta, virou sucata, eu até quebrei a perna... Um horror!

Bicicleteiro: Então agora brinque de subir ladeiras, use a marcha leve e suba.

A Moça: ... e eu levei o tombo bem na porta da casa do menino que eu gostava. Tinha um buraco na frente da casa dele e eu ainda estava levando uma amiga na traseira da bicicleta, me lembro que ela ficou toda ralada, quase matei a coleguinha. (tira o dinheiro da carteira e entrega ao bicicleteiro). Obrigada! Pode ficar com o troco.

Bicicleteiro: De nada. Olha, acho melhor a moça andar do jeito de hoje.

A Moça: Como assim?

Bicicleteiro: Nada de 12, 21 ou 30... Ande com a experiência de hoje.

A Moça: Entendi.

Bicicleteiro: Se hoje a moça levar um tombo na porta da casa do homem que a moça gosta vai ser bem diferente, não vai?

A Moça: Antes de me preocupar com o tombo, eu preciso é encontrar um moço pra gostar.

Bicicleteiro: E nada de coleguinhas no banco traseiro...

A Moça: Claro, por isso que nem banco traseiro tem na bicicleta, pra não correr o risco... e pensando bem, nada de ladeiras, nada de buracos, nada de tombos. Dessa experiência toda, eu fico só com o menino.

Bicicleteiro: Menino?

A Moça: Quero dizer, com o moço!

Bicicleteiro: Então boa sorte. 

A Moça: Agora, se fosse o contrário... se o moço levasse um tombo na porta da minha casa... Vixe! Eu ia fazer curativo, oferecer abrigo... Arrumar a corrente da bicicleta. Sabe como é? Sujar a mão de graxa... Aí sim! Resgate completo... 

Bicicleteiro: Atenção moça, o tempo passou, a menina se levantou sozinha, lembra? Pode cuidar do acidentado, mas não precisa sujar a mão de graxa, exagera não! Essa parte de conserto, de pegar peso... Faz assim, a moça liga pra mim que eu resolvo, pode ser? 

A Moça: Pode! Pois é... Pedala exagerada, pedala que o exercício está só começando.



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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A Cena da Imperatriz | Experimento nº 1.


"EU DOEI, MAS NÃO PERDI"


Os Arcanos da Cena: 
A Imperatriz, O Sol, A Justiça, O Mundo.

Cena baseada no jogo de improviso interpretado por:


Camila Bevilacqua, Carla Dias, David Carolla, Liz Mantovani e Silvia Fuller







MULHER: Eu doei, mas não perdi.

CURIOSO: Eu quero te ajudar a esclarecer o mal entendido, mas só posso ficar até às 18hs.

MULHER: Se não pode ser inteiro, então prefiro ficar sozinha.

CURIOSO: Eu não tenho o dia inteiro, vou chamar a Diretora.

(O Curioso sai e em seguida volta com a Diretora).

DIRETORA: Sim, no que posso ajudar?

MULHER: Eu me lembro que eram dois e agora só me devolveram um... Eu doei, eu não perdi.

DIRETORA: Vou precisar fazer algumas perguntas. Para quem a senhora fez a doação? Onde foi? A senhora se lembra em que circunstância ocorreu?

MULHER: Eu não lembro.

CURIOSO: Tente se lembrar. 

DIRETORA (para Curioso): Quem é o senhor? É parente? Amigo? 

CURIOSO: Só posso ficar até às 18hs, amanhã bem cedo eu volto.

DIRETORA: Melhor mesmo o senhor ir embora, ela precisa descansar! Quando voltar, por favor, traga umas frutas para o café da manhã, pão, leite e o jornal. Ah, e não se esqueça das flores.

(alguém bate à porta, entra Auxiliar)

AUXILIAR: Trouxe o resultado dos exames (para Diretora), a senhora quer ler agora?

MULHER: Eu só me lembro que eram dois.

DIRETORA (abrindo o envelope e lendo atentamente): Pelos resultados, de fato, só encontramos um, mas está em perfeito estado, a senhora deveria dar graças à Deus, é uma semente que dará excelentes frutos.

MULHER: Mas e o outro?

DIRETORA (para auxiliar): Pode examiná-la, veja se há algum indício, veja se consegue encontrar alguma pista sobre o paradeiro.

AUXILIAR: Sim. (a auxiliar passa a Mulher em revista, uma espécie de perícia).

CURIOSO: Olha, já deu minha hora, tem mais alguma coisa que eu possa fazer? Preciso ir embora.

AUXILIAR: Achei, achei uma foto. São três, os dois que foram doados e este um do resultado, que ainda está para nascer. O um não é o um dos dois, mas o um que virá para somar, formando três!

CURIOSO: Fui!

DIRETORA: Tenho certeza que amanhã quando ele voltar (referindo-se ao Curioso), ele trará os outros dois para tomar café da manhã com você, amanhã começaremos do zero. Podemos esquecer o passado, a senhora prefere assim?

MULHER: Eu posso? Posso começar do zero?

DIRETORA: (rasgando o exame) Sim, pode!

AUXILIAR: Vou abrir a janela para arejar, a senhora quer sair para tomar um ar? 

MULHER: Sim, quero! Vou tomar um ar fresco, o lusco-fusco é uma boa hora para um recomeço.


Contrate uma apresentação de A Cena da Imperatriz:

http://issuu.com/lander_house_of_art/docs/projeto_imperatriz_0.5

Nós encenamos o seu jogo!






domingo, 7 de outubro de 2012

Cartas Curtas | Ascensão em 06 de outubro de 2012.


Foto Viviane Fracari
Prefácio:


Declaro minha GRANDE DIFICULDADE em criar uma síntese para a sequência apresentada.
Tenho fôlego para escrever um romance de 500 páginas, mas exercito minha objetividade escrevendo essas 9 longas linhas.
Peço ajuda as palavras. Peço que elas me ajudem a contar o essencial.






"Um artista que tinha nos pés a terra, nas mãos os objetos e na cabeça a linha infinita da existência, me contou que a matéria prima da arte é o corpo em equilíbrio com a verdade.

Que verdade é esta?
Experimente publicamente dizer quem é você, sem se estender.
Experimente dizer o que você faz, de onde você veio e para onde vai. Diga se for capaz.

O artista preparou o cenário, o figurino e um roteiro livre para o improviso da criança.
A criança aprendeu a ser comportada em seu novo corpo porque nunca se comportou ao outro.

Verdade? Sim, ela esperou a vela acender com a paciência de um ancião. A vela ascendeu no desabrochar de uma flor de lótus. Mais de mil pétalas contabilizaram suas primaveras."



Inspirado na sequência: O Mago, O Louco, A Imperatriz, O Eremita.

PS: O título do Romance seria: "A RICA MENINA RICA"