Retiro do fundo do poço escuro a confissão do crime cometido, tratava-se de uma uma cópia mal feita da existência dela. Trago para superfície a gosmenta mentira e jogo-a sobre a mesa para analisá-la com clareza.
Feia, muito feia.
Então concluo:
Uma, só existe uma. Única. Se há outra, é a falsa, a intrusa, a covarde, a burra.
Estou nesse exato momento desfazendo o mal entendido e expulsando a boazinha do Paraíso, pois sinto muito informar-lhes, mas deste território cuido eu, desde o princípio, muito antes de inventarem as serpentes sedutoras e as folhas de parreira para taparem-lhes as vergonhas.
Muito antes...
Volto a reinar sob a luz das estrelas.
Volto a ouvir o canto do corvo anunciando o chegada do anjo de asas negras e de olhos vendados. O anjo que voa desgovernado, flechando às cegas o coração dos desprevinidos mortais.
De agora em diante, sempre que o anjo cair de sua nuvem cinzenta e voar por sobre a cabeça dela, cairá uma chuva grossa e ela abrirá um guarda-chuva cor-de-rosa. Então a flecha, num bate e volta, acertará o anjo, que voará cambaleante em direção a outro coração errante.
Está previsto que ela ficará atenta e resguardada. Que não será novamente vítima de outra farsa.
Sua imagem será preservada e amar a si própria será o seu eterno compromisso. Ela será autora da obra, página por página, linha por linha, todas as palavras serão suas verdades relatadas.
Seja bem-vindo! Os textos publicados são inspirados na linguagem pictórica não-verbal do Tarô. "O baralho de Marselha nos chega desacompanhado de um texto explicativo. Em vez disso, oferece-nos simplesmente uma história pela imagem, uma canção sem palavras, que nos acode ao espírito como um velho refrão, evocando lembranças sepultadas" (Sallie Nichols). Textos: Adriana Azenha. Fotos: Viviane Fracari. O Blog deu origem ao espetáculo teatral O MIOLO DA MISSIVA.