domingo, 31 de outubro de 2010

COMERAM-SE

                                                                                                                                                      
Foto Viviane Fracari

Um longo encontro, um encontro marcado no tempo ancestral.
O encontro demorou a acontecer, pois levou muito tempo para aliviar o peso, a dor e cicatrizar a ferida causada pela ventania que destelhou as casas.
Ficaram ambas desabrigadas,  nenhuma das duas foram avisadas de que passavam, cada uma no seu espaço, um terrível desequilíbrio que, desencadearia uma transformação no rumo traçado dos passos dados por elas, passos parecidos, sofridos, porém necessários para o avanço no aprendizado. 
Agora se encontraram, riram muito, choraram, se embebedaram, trocaram confissões, desabafos, mágoas, cansaços. Rasgaram a madrugada vasculhando os profundos e subterrâneos mistérios da alma.
Se espelharam na beleza do idêntico. Gêmeas, porém com energias avessas, invertidas para se encaixarem sob medida. E foi no dia da ventania que o espelho refletiu a ira, uma fúria frente a outra, o espelho quebrou, não podiam vibrar se não fosse em oposição, jamais atuar sob a mesma vibração.
Completas no abraço da tolerância com o arrogância, da quietude com a palavra rude, da paciência com a violência, da fome com a vontade de comer... uma à outra, pois como diria Clarice Lispector, saudade a gente só mata quando come a pessoa.