domingo, 18 de novembro de 2012

A CENA DA IMPERATRIZ | Especial para ESPAÇO ENERGIA - "Diga Espelho, Espelho meu. Existe alguém neste mundo mais Louca do que Eu?

O Tarô em Cena | A Caixinha Preta

(A MULHER está com um espelho na mão. Ela está no seu quarto, sentada em uma cadeira. De repente, entra pela porta do quarto OUTRA MULHER aos gritos, e rapidamente avança no pescoço da MULHER, tentando estrangulá-la)

OUTRA MULHER: Você não podia ter feito isso, ele é meu, você não podia ter saído com ele, você não tinha esse direito, ele era meu, eu vou matar você...

MULHER (sufocada): Socorro! Tirem essa louca daqui. Socorro! Alguém me ajude!

(entra o PAI da MULHER, consegue separar as duas, segura fortemente os punhos da OUTRA MULHER, que continua agressiva e descontrolada, o PAI tenta persuadi-la).

PAI: Acalme-se! Se você não se acalmar eu vou ter de chamar a polícia!

OUTRA MULHER: Ela é uma vagabunda, ela se jogou pra cima dele, ela é uma oferecida. Eu vou matar essa cretina, essa vaca!!! Me solta, me solta!

(Enquanto isso, a MULHER liga para a polícia)

MULHER: Eu preciso de ajuda, é urgente, uma louca invadiu minha casa me ameaçando de morte, meu PAI conseguiu imobilizá-la, mas preciso que a polícia interceda, ela está completamente descontrolada. Por favor, anote meu endereço, rápido, rápido!!!

(A MULHER passa o endereço para a polícia, enquanto o PAI tenta negociar com a OUTRA MULHER).

PAI: É dinheiro que você quer? Quanto você quer para se acalmar? Se ele se envolveu com minha filha, não há nada que você possa fazer, as coisas acontecem e com a cabeça quente você não vai conseguir resolver nada. Eu posso te ajudar. Quanto você quer para deixar minha filha em paz?

OUTRA MULHER: Eu não quero seu dinheiro, eu quero de volta o que ela me roubou! Eu não quero seu dinheiro, eu quero acabar com vida dela! Sua idiota! Eu te odeio!!!

(ouve-se a sirene da polícia, em seguida um policial armado entra no quarto, rende a OUTRA MULHER).

POLICIAL: A senhora está presa! A senhora tem direito de permanecer calada...

OUTRA MULHER: Ninguém vai calar minha boca, eu vou gritar para todo mundo ouvir, sua vagabunda, sua vagabunda!!! 

(O POLICIAL coloca as algemas na OUTRA MULHER, que é retirada a força e aos gritos do quarto. O PAI abraça a MULHER, ouvem-se ao longe os gritos da OUTRA MULHER misturados ao barulho da sirene do carro de polícia).

FIM.

UMA NARRATIVA PARA PANTOMIMA  "A CENA DA IMPERATRIZ "| Especial para ESPAÇO ENERGIA.

Ela estava sentada em seu nobre salão apreciando suas conquistas, administrando seus projetos e seus negócios. De repente, o Louco chega para visitá-la e realiza suas loucuras com muita graça e descompromisso. Ela ri, se diverte, dança com o Louco. O prazer que Ela sente é tão grande com a presença do Louco, que Ela quer que ele fique ali eternamente. O Louco quer ir embora, mas Ela não deixa. Ela está louca pelo Louco. O Louco quer se ver livre da loucura Dela. O Louco pergunta "Quanto você quer para sair do meu pé?". Ela responde: "Quero um saco de ouro". Então o Louco vai até o caixa eletrônico para fazer o saque de todo ouro de sua conta bancária. Chegando lá, o saldo do Louco está negativo, ele não tem ouro suficiente para se livrar Dela. Então o Louco reúne uma multidão de curiosos no portão do nobre salão e pede a todos que contribuam, cada qual com um pouco, para que ele junte um saco de ouro e entregue a Ela a quantia certa para que Ela fique quieta. O Louco quer de volta a sua paz.  O Louco que fique louco, pois ninguém pode ficar louco pelo Louco! Capisce?


SAIBA MAIS:
http://issuu.com/lander_house_of_art/docs/projeto_imperatriz_0.5

Participaram das Improvisações Cênicas:

Elizabeth, Marcia, Patricia, Mariluci, Alice, Sarah, Alberto, Susana Gabriela, Marilene, Ciça, Adriana.




sábado, 17 de novembro de 2012

A Cena Da Imperatriz - Experimento nº 4 | UM PAR DE INGRESSOS


O Teatro do Tarô | A Caixinha Preta
Personagens: 

Mulher/Sandra.
Lurdinha.
Jacks.
Dr. Eduardo.


(Salão de beleza, Lurdinha lava os cabelos da Mulher/Sandra).

Lurdinha: Vai cortar?

Mulher/ Sandra: Sim, mas só vou acertar o corte, eu quero deixar crescer...

Lurdinha: Vai pintar?

Mulher/ Sandra: Não, a cor está ótima, quero só acertar o corte...

(Jacks se aproxima e interrompe a conversa)

Jacks: Lurdinha, deixa que eu termino o cabelo dela, atende o Dr. Eduardo que ele está com pressa. (falando com Mulher/Sandra). Vai fazer alguma coisa hoje à noite, querida? Tenho um par de ingressos para o show do Roupa Nova. Não posso ir, vou trabalhar até às 22hs hoje, sábado é loucura, tenho duas noivas pra montar, acredita? Quer os ingressos? Tem alguém pra ir com você? O Roupa Nova é tudo! Sei cantar todas... Que ódio que eu não posso, mas vai no meu lugar amiga, vai e depois me conta tudo... (Jacks canta) "Linda, só você me fascina...".

(Entra Dr. Eduardo, senta-se na cadeira ao lado da Mulher, Lurdinha passa a atendê-lo prontamente).

Lurdinha (para Dr. Eduardo): O corte de sempre?

Dr. Eduardo: Não, hoje eu quero que você me surpreenda, apesar de que surpresa maior foi me sentar ao lado dessa linda moça.

Lurdinha: Ah, me deixa apresentar: Dr. Eduardo, Sandra. Sandra, Dr. Eduardo.

(Eles se cumprimentam mutuamente).

Mulher/Sandra: Dr. Eduardo? O senhor é médico, advogado...?

Dr. Eduardo: Sou médico. Ginecologista. (entrega um cartão para a Mulher/Sandra). 

Jacks (para Mulher/Sandra): Só vou cortar as pontinhas, até o final do ano seu cabelo vai estar na altura dos ombros...

Lurdinha: Estamos na lua nova. É bom para fortalecer o fio, seu cabelo vai crescer mais forte e super rápido.

Dr. Eduardo: E ela vai ficar ainda mais bonita? Impossível! 

Mulher/ Sandra: Obrigada. Que é isso gente? Assim vocês me deixam sem graça. 

Jacks: E aí? Você quer ou não quer os ingressos?

Mulher/Sandra: Eu não tenho ninguém pra ir comigo.

Lurdinha: Convida o Dr. Eduardo.

Dr. Eduardo: Eu nem sei do que se trata, mas um convite seu... Se você me convidar para tomar uma média com pão com manteiga na chapa na padaria, eu aceito. Pode convidar, convida que eu aceito.

Jacks: Gosto do Dr. Eduardo. Direto, objetivo! Pronto, já está resolvido, ele passa na sua casa e te pega. Vou até tirar sua sobrancelha, quer?

Mulher/Sandra: Para gente, eu acabei de conhecer o Dr. Eduardo, que vergonha...

Jacks (cantando): "Um olhar me atira a cama, um beijo me faz amar, não respondo, não me escondo porque sei que és minha dona...". 

Mulher/Sandra (para Jacks): Vem comigo até a recepção que eu já quero deixar agendado um horário para semana que vem... (vai com Jacks até o balcão da recepção e fala baixinho) vou deixar meu telefone, você entrega pra ele assim que eu sair, agora me dá os ingressos, mas não deixa ele ver, seja discreto, por favor...

(Jacks tira os ingressos do bolso e entrega para Mulher/Sandra, Sandra entrega um papelzinho com o número de seu telefone para Jacks, Jacks acompanha Mulher/Sandra até a saída do salão, enquanto isso Dr. Eduardo conversa com Lurdinha).

Dr. Eduardo: Será que eu exagerei? Acho que ela não gostou. Esquisito ela levantar assim sem se despedir. Eu encarei isso como um "não". O que você acha Lurdinha? Você que é mulher?

Lurdinha: Ah, Dr. Edurado, sei não, mulher é de lua, não dá pra saber. E se tem alguém aqui que deveria entender de mulher, esse alguém é o senhor... E a propósito, o senhor gosta do Roupa Nova?

Dr. Eduardo: Se eu gosto do Roupa Nova? Acho que eu não gosto não, mas o meu sapato é velho, já caminhou bastante... Pois é Lurdinha, capricha no topete, porque de acordo com a minha experiência, hoje eu vou descabelar o palhaço (risos, Dr. Edurado e Lurdinha cantam) "Pra que tanta pressa de chegar, se eu sei o jeito e lugar... se você vê estrelas demais...". Sabe a letra Lurdinha? Então canta, canta que eu te acompanho...

Fim

Participaram da criação deste jogo: Adriana Azenha, Camila Bevilacqua, Carla Dias e Juliana Passos.

saiba mais:
http://issuu.com/lander_house_of_art/docs/projeto_imperatriz_0.5







terça-feira, 30 de outubro de 2012

A CENA DA IMPERATRIZ: Experimento nº 3 - Transe em Trânsito

O TEATRO DO TARÔ | A CAIXINHA PRETA



(Som de buzinas, aceleradores, motos. Uma mulher está dentro de um carro, aparentemente sozinha. O carro está parado num cruzamento de muito movimento. É fim de tarde, A mulher está provocando um grande congestionamento de veículos. Ela está atrapalhando o tráfego. Surge Maurício, um guarda de trânsito, ele aborda a mulher com o intuito de organizar o caos provocado pela Mulher).

Maurício (batendo no vidro do carro, tentando se comunicar): Moça, algum problema? Posso ajudar? A senhora está passando mal? Precisa de ajuda?

(A mulher dentro do carro parece não dar muita atenção para Maurício, está falando sozinha, parece confusa, um pouco transtornada. Uma menina de 11 anos, que estava deitada no banco de trás, levanta e abre o vidro do carro. A criança estava dormindo e acorda com as batidas que Maurício dá no vidro).

Menina (para mãe, abrindo o vidro): Mãe, o homem está falando com a senhora, presta atenção. O que está acontecendo? (para Maurício) Minha mãe às vezes faz isso, eu não gosto quando ela faz isso.

A Mulher: Eu estou em dúvida.

Menina (para Maurício): Então, é isso, quando ela fica em dúvida, ela para.

Maurício: Mas a senhora não pode ficar parada aqui. Para onde a senhora precisa ir? Eu posso ajudar, encoste o carro naquele posto da esquina e depois eu posso ajudar a senhora a chegar ao seu destino.

Menina: Pode?

Maurício: Posso.

Mulher: Eu não vou sair daqui, eu não consigo.

Maurício: A senhora quer que eu ligue para alguém? Quer avisar alguém?

Mulher (procurando o celular): Eu não sei onde está o celular. Eu perdi.

Menina: Está aqui comigo mãe! Eu dormi encima dele. Eu vou ligar pro Tio Carlos.

Maurício: Quem é Tio Carlos?

Mulher: Não sei.


Menina: É meu tio, o irmão da minha mãe.

(a menina liga, alguém atende, ela começa a falar ao telefone, enquanto isso, Maurício desesperado tenta organizar o fluxo dos automóveis, o caos se intensifica).

Menina (ao telefone): Oi Tio, sou eu, a Tati. Mais ou menos. A mamãe não sai do lugar. A gente está... não sei... (pergunta para Maurício) Onde a gente está?

Maurício: No cruzamento da Brasil com a Augusta.

Menina: Na Brasil com a Augusta. Você pode vir aqui tio? Está bem, beijo tio. (desliga o celular).

Mulher: Eu quero descer do carro.

Maurício: Faz assim, a senhora me entrega a chave e eu levo seu carro até o posto da esquina, eu já disse para senhora, seu carro não pode ficar parado aqui!

(a mulher abre a porta e desce do carro. A Menina desce logo atrás, elas começam a discutir. Maurício entra no carro e senta no banco do motorista, a porta ainda está aberta).

Mulher: Eu vou embora a pé.

Menina: Para com isso mãe! Fica aqui! O Tio Carlos já está chegando...

Mulher: Eu vou pela calçada, pode deixar, não vou atrapalhar mais ninguém!

Menina: E eu mãe? O quê que eu faço?

Mulher: Volta a dormir minha filha.

Menina: Não mãe! Quem está dormindo é a senhora! A senhora é que vai sair andando por essa calçada feito uma sonâmbula.

(a mãe desmaia e cai no colo de Maurício que está dentro do carro tentando dar a partida. Chega Tio Carlos, um pouco nervoso).

Tio Carlos (para Menina): Que é isso Tati? O que está acontecendo aqui? Que confusão é essa?

Menina: Mamãe desmaiou.

Maurício: Desculpe senhor, mas preciso tirar o carro daqui urgente. Não podemos mais ficar aqui parados!

Tio Carlos (dando tapinhas suaves no rosto da Mulher): Sandra, Sandra, sou eu, Carlos, venha, me abrace, vamos sair daqui, venha, você precisa descansar, vamos para minha casa... (para Maurício) O senhor pode nos levar, eu não dirijo, se o senhor puder nos levar, serei muito grato!

(Tio Carlos entra no banco traseiro junto com a Mulher que aos poucos vai voltando à consciência, a menina senta-se no banco do passageiro, à frente).

Maurício: Onde fica sua casa, Sr. Carlos? Eu estou à serviço, não posso me demorar...

Menina: É aqui pertinho, eu sei onde é, eu te explico. Tio Carlos mora logo ali, perto da Nossa Senhora do Brasil. Ele veio a pé! O tio Carlos não tem carro, ele detesta dirigir!

Mulher: Quando chegarmos, eu posso tomar um banho?

Tio Carlos: Pode, claro, vou fazer um caldo de mandioquinha para vocês. Você precisa se alimentar.

Menina: Eu dou banho na mamãe (para Maurício) Na casa do Tio Carlos tem uma banheira enorme. (para Tio Carlos) Posso fazer bastante espuma tio? (Para Mulher) Posso lavar seu cabelo mãe? Adoro lavar os cabelos da mamãe...

(Maurício estaciona em frente à casa de Tio Carlos).

Mulher: Obrigada seu Maurício. Obrigada por tudo! Eu precisei parar, nem sempre sigo o fluxo, nem sempre... Bom trabalho para o senhor...

(todos descem do carro, Maurício se despede).

FIM.


















quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A Cena da Imperatriz: Experimento nº 2 | A Boticária.



(A cena se passa na Botica de Epífana, uma Mulher está aguardando para ser atendida, cheiro de cânfora e outras essências).

Epífana: Você gosta do cheiro? Gosta de sentir o cheiro das coisas?

A Mulher: Eu gosto do cheiro das ervas, dos temperos. E esse cheiro? É alecrim?

Epífana: É, mas não é para comer.

Mulher: Eu sei... Está tão perfumado...

Epífana: Eu vou jogar um pouco de água na sua cabeça, feche os olhos e imagine que a água escorre por um funil e escoa para um fundo infinito. (jogando a água). Onde dói?

Mulher: Dói a perna direta, bem encima do joelho, no fim da cocha...

Epífana: E a cabeça? Dói?

Mulher: O que causa a dor na perna talvez seja a cabeça. A cabeça é que faz doer as pernas. Eu me sinto como um pássaro que tem uma perna quebrada, nada me impede de voar, mas na hora do pouso, na hora de aterrissar... É sempre tão difícil!

Epífana: Você gosta de álcool?

Mulher: Não, eu não bebo, eu não fumo, eu não cometo excessos, eu me alimento muito bem...

Epífana: Você faz força em excesso, é esforço! Vou preparar algo para você beber, fique tranquila, é de baixo teor alcoólico.

(A Mulher pega o copo e bebe o conteúdo num gole só. Então começa a derrubar as coisas, os móveis, os quadros, fica em descontrole, A Mulher sente-se como um Popeye quando come espinafre).

Epífana: Vai, continua, não para! Vai até o fim. Quando você pensa que acabou, não acabou ainda, você precisa ir até o fim! Você precisa cair!!!

(Epífana empurra a Mulher que cai em queda livre, sua queda é imaginária, ela fica de olhos fechados deitada no chão, grita como se estivesse caindo, caindo, caindo... Ela cai em si mesma, fica imóvel e relaxada, parece estar dormindo de barriga para cima).

Epífana: Pode abrir os olhos. (entrega um copo de água para a Mulher). Beba um pouco desta água e depois pode ir...

Mulher: Que bagunça que eu fiz, quer que eu arrume? Eu quebrei alguma coisa?

Epífana: É assim mesmo, não se preocupe com isso agora, pode ir...

Mulher: Eu vou, eu estou um pouco tonta, mas eu sei que vai ficar tudo bem. Eu sei!

Epífana: Cuidado ao sair, não tropece em nada, olhe por onde você anda, o que não foi ao chão deve permanecer como está, o que tinha que cair ao chão, no chão vai ficar. Saia do jogo como uma vareta preta quando é retirada do meio das varetas coloridos num  jogo de"pega varetas". Saia com calma e precisão.

(Quando a Mulher está saindo, ela quase derruba a mesa onde estão as essências de Epífana, a Mulher se assusta, olha para Epífana, pede desculpas e sai).


Uma narrativa para pantomíma:  

,uma menina estava sentada debaixo de uma árvore frondosa, ela desenhava pássaros num caderno, de repente, de cima da árvore, caiu sobre ela um balde de água. Ela ficou toda molhada, sua roupa, seu caderno... Tentou subir na árvore para ver se descobria a origem do balde. Ela não conseguia subir, escorregava, pois sua roupa estava muito molhada. Quando já estava desistindo, a árvore começou a balançar e uma Gorila começou a descer da árvore, ela ficou assustada. Então, a Gorila pegou o balde vazio e colocou-o sobre a cabeça da menina. A Gorila segurou na mão da menina e conduziu-a, guiando-a pelo vasto campo. A menina se sentia tão segura que se entregou a experiência e se deixou levar. A Gorila corria puxando-a pela mão, mais tarde, quando se cansou da brincadeira, foi embora. A menina ficou sozinha com o balde na cabeça. Começou então uma forte ventania, tão forte que tirou seus pés do chão, o balde foi arrancado de sua cabeça com a força do vento. O vento fez com que ela voasse tão alto, que quando recuperou a visão, estava a voar entre pássaros, os mesmos pássaros que ela desenhava em seu caderno...




saiba mais:

http://issuu.com/lander_house_of_art/docs/projeto_imperatriz_0.5/1








domingo, 14 de outubro de 2012

Uma Cena para A Carta Curta na Caixa Preta | Aro 26.






(A cena se passa na calçada em frente à uma bicicletaria, uma Moça conversa com o Bicicleteiro que montou a bicicleta que ela deixou para regular).

Bicicleteiro: Ficou em 18 reais tudo. O aro é 26. Então veja se o banco está na altura do seu quadril? Aqui está o manual de instruções, qualquer dúvida eu estou por aqui.

A Moça: Deixa eu dar uma voltinha pra ver se eu ainda sei pedalar.

Bicicleteiro: Claro que sabe. Depois que a gente aprende a andar de bicicleta não esquece mais, é só um pouco de treino e logo você já está andando do mesmo jeito que andava quando tinha 12 anos.

A Moça: Quando eu tinha 12 nos eu brincava de descer ladeiras, uma vez levei um tombaço, acabei com minha bicicleta, virou sucata, eu até quebrei a perna... Um horror!

Bicicleteiro: Então agora brinque de subir ladeiras, use a marcha leve e suba.

A Moça: ... e eu levei o tombo bem na porta da casa do menino que eu gostava. Tinha um buraco na frente da casa dele e eu ainda estava levando uma amiga na traseira da bicicleta, me lembro que ela ficou toda ralada, quase matei a coleguinha. (tira o dinheiro da carteira e entrega ao bicicleteiro). Obrigada! Pode ficar com o troco.

Bicicleteiro: De nada. Olha, acho melhor a moça andar do jeito de hoje.

A Moça: Como assim?

Bicicleteiro: Nada de 12, 21 ou 30... Ande com a experiência de hoje.

A Moça: Entendi.

Bicicleteiro: Se hoje a moça levar um tombo na porta da casa do homem que a moça gosta vai ser bem diferente, não vai?

A Moça: Antes de me preocupar com o tombo, eu preciso é encontrar um moço pra gostar.

Bicicleteiro: E nada de coleguinhas no banco traseiro...

A Moça: Claro, por isso que nem banco traseiro tem na bicicleta, pra não correr o risco... e pensando bem, nada de ladeiras, nada de buracos, nada de tombos. Dessa experiência toda, eu fico só com o menino.

Bicicleteiro: Menino?

A Moça: Quero dizer, com o moço!

Bicicleteiro: Então boa sorte. 

A Moça: Agora, se fosse o contrário... se o moço levasse um tombo na porta da minha casa... Vixe! Eu ia fazer curativo, oferecer abrigo... Arrumar a corrente da bicicleta. Sabe como é? Sujar a mão de graxa... Aí sim! Resgate completo... 

Bicicleteiro: Atenção moça, o tempo passou, a menina se levantou sozinha, lembra? Pode cuidar do acidentado, mas não precisa sujar a mão de graxa, exagera não! Essa parte de conserto, de pegar peso... Faz assim, a moça liga pra mim que eu resolvo, pode ser? 

A Moça: Pode! Pois é... Pedala exagerada, pedala que o exercício está só começando.



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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A Cena da Imperatriz | Experimento nº 1.


"EU DOEI, MAS NÃO PERDI"


Os Arcanos da Cena: 
A Imperatriz, O Sol, A Justiça, O Mundo.

Cena baseada no jogo de improviso interpretado por:


Camila Bevilacqua, Carla Dias, David Carolla, Liz Mantovani e Silvia Fuller







MULHER: Eu doei, mas não perdi.

CURIOSO: Eu quero te ajudar a esclarecer o mal entendido, mas só posso ficar até às 18hs.

MULHER: Se não pode ser inteiro, então prefiro ficar sozinha.

CURIOSO: Eu não tenho o dia inteiro, vou chamar a Diretora.

(O Curioso sai e em seguida volta com a Diretora).

DIRETORA: Sim, no que posso ajudar?

MULHER: Eu me lembro que eram dois e agora só me devolveram um... Eu doei, eu não perdi.

DIRETORA: Vou precisar fazer algumas perguntas. Para quem a senhora fez a doação? Onde foi? A senhora se lembra em que circunstância ocorreu?

MULHER: Eu não lembro.

CURIOSO: Tente se lembrar. 

DIRETORA (para Curioso): Quem é o senhor? É parente? Amigo? 

CURIOSO: Só posso ficar até às 18hs, amanhã bem cedo eu volto.

DIRETORA: Melhor mesmo o senhor ir embora, ela precisa descansar! Quando voltar, por favor, traga umas frutas para o café da manhã, pão, leite e o jornal. Ah, e não se esqueça das flores.

(alguém bate à porta, entra Auxiliar)

AUXILIAR: Trouxe o resultado dos exames (para Diretora), a senhora quer ler agora?

MULHER: Eu só me lembro que eram dois.

DIRETORA (abrindo o envelope e lendo atentamente): Pelos resultados, de fato, só encontramos um, mas está em perfeito estado, a senhora deveria dar graças à Deus, é uma semente que dará excelentes frutos.

MULHER: Mas e o outro?

DIRETORA (para auxiliar): Pode examiná-la, veja se há algum indício, veja se consegue encontrar alguma pista sobre o paradeiro.

AUXILIAR: Sim. (a auxiliar passa a Mulher em revista, uma espécie de perícia).

CURIOSO: Olha, já deu minha hora, tem mais alguma coisa que eu possa fazer? Preciso ir embora.

AUXILIAR: Achei, achei uma foto. São três, os dois que foram doados e este um do resultado, que ainda está para nascer. O um não é o um dos dois, mas o um que virá para somar, formando três!

CURIOSO: Fui!

DIRETORA: Tenho certeza que amanhã quando ele voltar (referindo-se ao Curioso), ele trará os outros dois para tomar café da manhã com você, amanhã começaremos do zero. Podemos esquecer o passado, a senhora prefere assim?

MULHER: Eu posso? Posso começar do zero?

DIRETORA: (rasgando o exame) Sim, pode!

AUXILIAR: Vou abrir a janela para arejar, a senhora quer sair para tomar um ar? 

MULHER: Sim, quero! Vou tomar um ar fresco, o lusco-fusco é uma boa hora para um recomeço.


Contrate uma apresentação de A Cena da Imperatriz:

http://issuu.com/lander_house_of_art/docs/projeto_imperatriz_0.5

Nós encenamos o seu jogo!






domingo, 7 de outubro de 2012

Cartas Curtas | Ascensão em 06 de outubro de 2012.


Foto Viviane Fracari
Prefácio:


Declaro minha GRANDE DIFICULDADE em criar uma síntese para a sequência apresentada.
Tenho fôlego para escrever um romance de 500 páginas, mas exercito minha objetividade escrevendo essas 9 longas linhas.
Peço ajuda as palavras. Peço que elas me ajudem a contar o essencial.






"Um artista que tinha nos pés a terra, nas mãos os objetos e na cabeça a linha infinita da existência, me contou que a matéria prima da arte é o corpo em equilíbrio com a verdade.

Que verdade é esta?
Experimente publicamente dizer quem é você, sem se estender.
Experimente dizer o que você faz, de onde você veio e para onde vai. Diga se for capaz.

O artista preparou o cenário, o figurino e um roteiro livre para o improviso da criança.
A criança aprendeu a ser comportada em seu novo corpo porque nunca se comportou ao outro.

Verdade? Sim, ela esperou a vela acender com a paciência de um ancião. A vela ascendeu no desabrochar de uma flor de lótus. Mais de mil pétalas contabilizaram suas primaveras."



Inspirado na sequência: O Mago, O Louco, A Imperatriz, O Eremita.

PS: O título do Romance seria: "A RICA MENINA RICA"






domingo, 23 de setembro de 2012

Cartas Curtas | Achados e Perdidos.


Foto de Viviane Fracari



Estou errada, mas não vou voltar.
Entrei à esquerda sem retorno.

Agora já era! Vou seguir assim mesmo!

Inverto.
Troco os números, os endereços.

Quanto mais erro no acaso e no desejo ingênuo do acerto, mais no lugar combinado compareço.

Equivocadamente eu sempre chego.

Chego melhor por onde me perco.




Inspirado na sequência: A Justiça, O Louco, O Julgamento, O Eremita.


sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Cartas Curtas | Refúgio do Barulho!

Às vezes a canção ofertada é tortura para os ouvidos.
É impossível manter a concentração.
Sou obrigada a desligar da tomada a máquina do som.
De repente, a vibração pode estourar os vidros e acordar os vizinhos.
Pode provocar alarido nas ruas e o latido dos cães enfurecidos.
Quanto maior o meu isolamento acústico, mais barulho escuto, no meu perturbado refúgio.

Inspirado na sequência: A Estrela, O Julgamento, O Eremita, A Lua.


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Cartas Curtas | O MAL QUE HÁ EM MIM.

Foto de Viviane Fracari

Posso salgar tua comida, botar água na tua pinga.
Posso queimar tua camisa com a bituca do meu cigarro se você olhar pra moça da mesa ao lado.
Posso amarrar teu pé na cruz em nome de Jesus.
É... Eu posso te amaldioçar! 
Posso, mas não quero, pois o mal que há em mim é bom demais pro pouco bem que você me faz!!!




Inspirado na sequência: A Estrela, O Enamorado, O Enforcado, O Diabo.

domingo, 26 de agosto de 2012

Cartas Curtas | INTRÍNSECA

Viviane Fracari
Quando vou sofrer o mal do mundo, olho bem para ele, de frente, e então, não sofro, transmuto.
Quando assumo meu lugar no mundo, todo o lugar é mundo.
Quando sou o mundo, sou.
E quando paro de pensar o mundo, aqui estou.


Inspirado na sequência: O Diabo, A Imperatriz, O Mundo, O Enforcado.

sábado, 18 de agosto de 2012

Cartas Curtas | CIRCULAÇÃO

foto de Adriana Azenha

Pode me abraçar, já não estou tão fria, botei o sangue para circular.
Veias e artérias desobstruídas.
Soube que Deus olhou para os rios represados, pensou, pensou, pensou...
Catou uma tela em branco, pincéis e tintas coloridas.
Então, Ele redesenhou o curso dos rios, abriu as comportas e a água escoou.
Fiquei bem bonita, rosto corado, uma expressão de menina, meu pé nunca mais formigou.
Posso ficar horas, sentada com as pernas cruzadas, lendo, escrevendo, meditando, contemplando.
As pernas bem acordadas recebem suas águas, correntes sanguíneas dos rios que Deus, com sua graça, me concedeu...
Pode me abraçar! 

Inspirado na sequência: O Sol, O Mago, O Mundo e A Papisa.

domingo, 29 de julho de 2012

AS CARTAS CURTAS | A SÍNTESE





















Viviane Fracari
Ficar sozinha para arrumar a casa, para estudar compenetrada. 
A vida funciona continuada, a oferta é variada e a escolha acertada.

Sequência: A Estrela, A Papisa, A Roda da Fortuna e O Mago.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

a Carta do Corpo | O GUIZO



Foto de Viviane Fracari

Então, depois de ter dormido uma eternidade, ela se levantou.
Os joelhos duros, as costas curvadas, o pescoço inclinado para baixo.
Só sabia olhar para o chão.
Logo viu que se tratava de um milagre, pois a sua volta, podia-se ver uma histeria coletiva, uma comoção descontrolada...
Ergueu a cabeça e caminhou em direção ao abraço do vento. Um vento morno que envolveu seu corpo e que com braços longos desenhou no ar um caminho distante, um caminhar para longe, um percurso amplo, uma imensidão, uma visão do sem fim.
Ela caminhou dançando a dança dos ventos e recebeu um novo endereço.
Recebeu muitas coisas novas: roupas, sapatos, anéis, perfumes, colares, lenços, livros e músicas.
Recebeu presentes de todos os tipos: de beijos a toques, de chocolates a vinhos. Eram presentes lindos!
Seu sorriso estava mais bonito, sua pele mais limpa.
Seu corpo surpreendentemente resistente preparou a terra, fez o seu arado e semeou um futuro ensolarado.
Seria possível ela brotar da terra? Seria possível ela rasgar a terra com sua fragilidade de caule novo e sair com seu broto em direção a luz, ao vento, sedenta de água, de terra molhada? Seria possível a semente ventre trazer de volta a mulher que tinha sido dada como morta?
Seria possível fazê-la criar raízes novas e firmar-se de pé e crescer árvore de grande copa?
Seria possível?
Seria possível?
Seria?
Sim, sim e sim. Que sim mais puro nasce junto com ela.
Um sim para vida. Um sim para a misericórdia da vida. Perdoem-me se preciso agora ser misericordiosa, perdoem-me. É preciso ser para o corpo poder renascer!
Olhem bem para ela. Olhem com atenção, ela tem um escudo na mão. Ela tem proteção.
Ela tem coroa e asa. Ela voa.
Ela está prenha de si mesma, orgulhosa de sua fecundação.
Pode dar à luz todos os dias, pode parir cada hora, pode parir sua história.
Não vai olhar para trás, não agora. Não vai olhar para a própria cova, não agora.
Não vai olhar porque não há necessidade.
Não é preciso dizer adeus aos que ficam, fazer agradecimentos, acenar, mandar beijos.
Não, não é preciso. Não aos ingratos, não aos cegos, não aos rudes, não aos rasos, não aos tristes, não aos duros, não aos intolerantes, aos perfeitos, aos senhores de todas as razões. Não!
Não será preciso pedir licença para sair. A casa é minha, a terra é minha, a vida é minha. Estou de saída!
Não aos que ignoram a beleza da minha partida.
Não, não e não. Que não mais puro nasce junto com ela.
E com o sim na mão esquerda e o não na mão direita, ela segue viagem.
Altiva, solene, digna.
Retira do bolso uma fita comprida e colorida com um guizo amarrado na ponta.
Ela amarra o guizo ao seu pescoço, pois sabe que quando ela estiver ausente de si mesma, o barulho do guizo poderá trazê-la de volta, o barulho do guizo anunciará sua presença para que ela esteja sempre presente em si mesma.
FELIZ VIDA NOVA!

Inspirado na sequência: O Julgamento, O Mago, A Imperatriz, O Carro.




terça-feira, 29 de maio de 2012

a Carta do Corpo | Desestrutura



Foto de Viviane Fracari


Vamos desabotoar a camisa? 
Vamos deixar o corpo nu?
A camisa é colorida e o corpo neste momento é preto.
Uma ausência de cor.
Um corpo preto apoiado no solo, como um prego aguardando o martelo.
O tempo foi suficiente para que o corpo revelasse o segredo escondido.
O corpo segurava, com as mãos para trás, o segredo.
"Adivinha o que eu tenho nas mãos?"
Um buquê de flores ou um rato?
Um anel ou um pão embolorado?
Um chocolate ou uma pedra?
Um brinquedo ou um crucifixo?
Um lenço ou uma corda?
Adivinha! Você é ou não é uma menina espertinha?

O corpo estava de mãos vazias, desde muito tempo... E a menina sabia.
Fez-se de ingênua e jogou o jogo, arriscou um palpite e disse:
"Um pássaro! Tens um pássaro escondido."
O corpo encerrou o assunto. Disse a ela que não tinha um pássaro, mas sim uma arapuca.
Uma arapuca vazia de pássaro, uma arapuca na expectativa do pássaro, uma arapuca que no vazio de sua existência, que sem pássaro, é apenas espaço vago. E que com pássaro, é arapuca preenchida da esperançosa liberdade.
"Quer a arapuca para ter o pássaro?"
A menina começou a chorar, não gostou da surpresa, guardou a arapuca, aceitou o presente, mas jamais capturou o pássaro. Jamais quis preencher o vazio das mãos do corpo com o interrompido vôo do pássaro.

De um lado a esperança. E do outro?
A arapuca desarmada era uma pirâmide de madeira inacabada.
Uma pirâmide sem faraó.
Desmontou a arapuca e refez a estrutura.
Nunca mais arapuca, nunca mais gaiola, nunca mais sarcófago de faraó em pirâmide alguma.
Nada de túmulo para vivas almas.
Nada de mãos que de tão vazias clamam por preenchimento se valendo do vôo alheio.

Refez a estrutura.
No lugar de arapuca agora se pode ver um cesto, um ninho, um berço.
Cada ripa de madeira transformada em fruteira.
Seja pra ovo, fruto ou feto.
O corpo tem que estar com mãos preenchidas de mundo.
Infinito mundo.
O corpo estava vestido com todas as cores. Vestiu-se de branco e saiu rodopiando.


(participam deste texto: O Enforcado, A Justiça, O Mago e O Mundo).






terça-feira, 15 de maio de 2012

O Miolo da Missiva | Quando a obra escolhe seus criadores

Vídeo do espetáculo teatral O Miolo da Missiva
em temporada na Oficina Cultural Oswald de Andrade
outubro e novembro de 2011.


 A EXPERIÊNCIA CONTINUA, ACOMPANHEM O BLOG:
Os textos de O Miolo da Missiva, A Carta Crua e a Carta do Corpo.



domingo, 22 de abril de 2012

a Carta do Corpo | ASCENSÃO EM 21 DE ABRIL DE 2012


Escolheram-se: a Mulher da língua afiada na justa medida da palavra, o Mestre dos corpos e porta voz das muitas falas, a Senhora do carvão com seus livros na mão e a Saia Rodada de tom grave que girava com profunda austeridade.
A ascensão estava anunciada.


Sobre a Mulher da língua afiada

Ela fez uma festa em um lindo palacete construído para ser inaugurado no último dia do seu reinado.
Todos os presentes já sabiam que ela subiria a íngreme escada de ferro.
A vermelha escadaria.
Então fizeram fila para ouvirem as suas palavras de despedida.
Ela foi homenageada com muitas honrarias, com discursos, danças, canções e poesias.
Ela provocou o inesperado, riu e gargalhou com tudo que deu errado, ridicularizou o pudor, aplaudiu o fogo e pediu que vaiassem até que o fracasso enfim terminasse.
Ascendeu despedindo-se da matéria. Ela doou para leilão seus colares, suas pulseiras, seus anéis. Leiloou sua voz. Deu de presente seu corpo e seu coração.
Deixou todo o barulho dos seus gritos, deixou seu nariz de palhaço, deixou sua expressão livre.
Sua língua afiada virou tinta, tecido, plástico, ferro, madeira. 
Sua língua afiada virou teatro, dança, cinema.
Sua língua afiada virou arte e escorre pelas paredes verdes de seu palacete.
Quem quiser ouvir agora a justa medida das suas palavras, terá que ser livre o bastante para desfilar em praça pública de maiô, com a bunda suja de cocô e com a merda a escorrer pelas pernas.
Terá que ser livre o bastante para se expor sem temer o vexame.
Terá que ser livre, minimamente livre, para fazer da existência uma experiência VERDADEIRA.



Sobre o Mestre dos corpos.

Ele riu do esquecimento para não virar ressentimento.
Poderia lamentar, mas preferiu trabalhar.
Ascendeu para um novo dia e sabiamente fez o que já fazia.
Ele sabe que o que mudou foi a qualidade da hora, mas que o tempo continua sendo o mesmo.



Sobre a Senhora do carvão.

quero em sonho ver tua mão pintada de carvão sobre minha face pálida.
quero te emprestar minha caneta para escreveres nas minhas costas as palavras que mais gostas.
por que nas costas?
para que eu tenha que pedir aos outros que leiam em voz alta.
quero que os outros leiam onde meus olhos não alcançam.



Sobre a Saia Rodada de voz grave.

Um trono nunca poderá ficar vazio.
...
Então disse uma sábia mulher do povo:
"Não tenho inveja do seu poder porque eu tenho o meu"
Seja bem-vindo o novo PODER.

Que a ascensão seja para todos!!!

segunda-feira, 2 de abril de 2012

a Carta do Corpo | o punho e a apunhalada

Todas prontas para o passeio.


O Miolo da Missiva emprestou palavras ao corpo.
E com os nossos olhares atentos ao que o corpo construiu, vamos desconstruir e refazer o caminho.
Que prazer jogar com "Elas".
Juntas formamos a seguinte frase:

Temos os joelhos levemente flexionados, um pescoço interessado, os braços, como asas, nos fazem flutuar sobre as águas, nossos dedos das mãos tocam a língua, dedos umedecidos viram as páginas dos livros, nossas pernas são fortes como as de uma égua, cavalgamos livremente rumo ao nosso fantástico inconsciente.

Joelhos, pescoço, braços, dedos das mãos, língua e pernas...

Fernanda Nocam por Viviane Fracari
Eremita, Temperança, Papisa, Carro.

As mulheres são protagonistas das nossas pesquisas.
"Elas".
Esta carta de hoje dedico as mais velhas, as pacientes, as sábias, as que foram encorajadas a cavalgarem para trás, a cavalgarem para dentro, para a casa antiga, para a velha Vila das Meninas.

Só as mais velhas têm memórias tão longínquas, só Elas lembram de coisas esquecidas.

Às vezes em sonhos são transportadas para suas mais escuras moradas, cavernas, grutas, garagens cheias de óleo, galpões vazios, terrenos baldios. Meninas jamais deveriam transitar por espaços que não fossem arejados, iluminados, ensolarados.

O carro de passeio pode nos levar ao passado, ele pode ser uma carruagem que nos conduz pelas linhas da palma da mão. 

Somos passageiras numa viagem sem destino?

O que diria a cigana ao olhar nossas mãos, ao ler nossas cartas?

Ela diria: “Teu corpo é tua casa, se teu punho estiver dolorido, experimente bater na porta, talvez esteja a doer tua vontade de bater, talvez esteja a doer tua vontade de entrar sem bater, talvez esteja a doer, pois já é chegada a hora de soltar a corda, de parar de segurar com tanta força as mãos do teu protetor, solta e cai, solta e vai, solta, porque o que seguras já não existe mais. Entra na tua casa, tu vais subir as escadas, vais ver as migalhas sobre a cama, vai ver que aquele que está lá embaixo na sala é o mesmo que está lá encima nos quartos, são todos o mesmo retrato, todos não estão mais ao seu lado, todos te abandonaram, ficaste sozinha na tua casinha, teu corpo refeito, perfeito, saudável...  teu corpo te diz através do espelho que essa mulher que está aí fora é mesma que mora aí dentro. Se cuidares deste templo terás uma deusa no altar do teu peito"

Bons presságios...

Só as mais velhas podem entender a previsão do passado, pois o futuro é o passado que ainda não foi revisitado. Ainda é tempo de passear pelo futuro. Sejam bem-vindas as meninas das MISSIVAS!