segunda-feira, 12 de setembro de 2011

carta muito crua | O AMOR E O HORROR

Foto Viviane Fracari
Eu quero fazer um escândalo bem grande. 
Virar tudo de pernas pro ar, provocar uma catástrofe nuclear.
Eu quero puxar os cabelos, bater na cara, cuspir e chutar. 
Eu quero fazer tropeçar, quebrar os dentes, empurrar escada à baixo.
Eu quero que se dane, que se foda, que se lasque, que se ferre.
Quero saber de mim!
Quero passar por cima, esmagar, atropelar, fazer sangrar, esfolar, cortar, arranhar.
Quero saber de mim!
Estou devolvendo o carinho recebido, devolvendo o beijinho, os agradinhos, os docinhos, as lembrancinhas, as mentirinhas embrulhadas pra presente.
Quero saber de mim!
Da minha pouca vergonha, da minha cara de pau, do meu pouco caso, do meu descaso, da minha violação.
Quero cuidar do meu quinhão.
Da minha cria, do meu pão, da minha casa, do meu chão, do meu interesse, da minha obrigação.
Quero ser pra mim, não quero dar satisfação, quero mandar embora, dar o fora, quero sair sem me despedir.
Quero ser em mim.
Tudo bem?
Sim!
Estão todos bem, ninguém saiu ferido, nem tudo que eu quero, eu consigo.
Estão todos bem, foi só um delírio, eu digo que quero, mas não concretizo.
Estão todos bem, foi só um latido, a cadela é banguela, só late, não morde, grita sem dar golpe.
Ficaram assustados com o verbo solto, selvagem, com a verborragia externa?
Eu externo no verbo pra não externar na carne, pra não virar ferida, bereba, espinha.
Eu externo no verbo pra não externar na pele.
Porque o verão está chegando e eu quero sair de mini saia, de mini blusa, com as costas de fora, com os ombros à mostra. Quero estar com pele boa, quero estar de cara limpa.
Externo no verbo meu inferno pra viver em paz com o universo.
Em paz com tudo que sou.
Com o Amor que há no meu Horror, se houver...