domingo, 1 de maio de 2011

O nascimento da Carta Crua

A cobra morde o rabo, a missiva conclusiva.
O Miolo da Missiva abre hoje o Livro II.
Estou em São Paulo, estou em 01 de maio de 2011, tenho 40 anos, dois filhos.
Moro com a minha mãe. Sou atriz. Para pagar minhas contas dou aulas de teatro, ministro cursos em empresas, raramente, ao longo desses 20 anos de carreira, ganhei dinheiro atuando, mas declaro publicamente que o que ganhei com o teatro é de fato meu grande tesouro, amo essa arte com a qual estou envolvida, amo escrever para teatro, atuar, dirigir, conversar e experimentar teatro. Sou uma teatreira praticante.
Os textos escritos para o Miolo da Missiva viraram uma peça teatral que virá à público em breve.
Hoje inicio o Livro II.
O Miolo da Missiva- Livro II: "A Carta Crua".
Nunca me imaginei autora, cometo muitos erros quando escrevo, tenho dificuldades com as pontuações, às vezes escrevo errado, mas gosto muito de escrever, escrever me conta, me organiza, me revela, me vira do avesso.
Este diário que mantenho escancarado é meu paciente exercício de observação do que quero chamar a partir de agora de A Carta Crua. A Carta Crua é sem tempero, tem cheiro de sangue, tem gosto de terra, é original, autêntica, nua e crua, fica exposta ao sol pra conservar, fica na geladeira pra não estragar, fica em tonéis, engarrafada, crua, sem mistura, é anterior a minha vontade, é superior à minha vaidade, é rigorosa com a verdade, é cruel com minha  necessidade de aprovação, com a minha posição de vítima, com minha fraqueza, com minha exagerada transparência que tento evitar, disfarçar, mascarar, mas que vem à tona impiedosa e me rasga ao meio e me expõe sem pedir licença e esfrega na minha cara sua autoritária sentença: A Carta Crua é justa e não tem nada haver com o destino, nada está pré estabelecido. Eu sou o que eu quero pra mim.
Eu quis ficar sozinha, eu quis ser atriz, eu quis ter filhos, eu quis voltar pra casa de minha mãe, eu quis ter dois ex maridos, eu quis ser boba quando fui e quando fui vil também quis exercer minha vilania. Continuo a querer, segundo à segundo. Quero ter sorte, quero me dar bem, quero fazer pouco esforço, quero acertar no jogo, quero vencer, ganhar, ter, me satisfazer, rir, me divertir, ter prazer e oferecer ao mundo todo o melhor de tudo que eu sei fazer. Se eu quero, eu posso?
Pelos os critérios de A Carta Crua, eu posso sempre, mas ninguém pode por mim, eu faço a minha história, escolho minhas cenas, meus colegas de cena, meus ondes e os quandos de cada ato, de cada quadro.
A Carta Crua me responsabiliza, me liberta, coloca nas minhas mãos os capítulos do novo livro.
Nunca fui fraca nem pequena. Nunca fui infeliz nem digna de pena. Sou uma mulher com fome, quero comer a vida, raspar o prato, sentir o gosto prolongado do pão que eu mesma amassei. O meu pão da vida.
Sou experiente, há um saber em mim, claro que há. Vou resumir: sei criar, sei mostrar minha criação, sei procriar, sei desvendar o que está por trás daquilo que crio, a minha criação no momento em que estou esvaziada de emoções baratas, de fórmulas equivocadas, de ingênuas influências e de quando estou em conformidade com o Tempo. Estou desvendando hoje A Carta Crua. Cheguei até aqui.

4 comentários:

  1. adriana , como eu admiro você!! parabéns , vou acompanhar seu blog!!

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  2. Obrigada!!!!!! Isso mantém meu sangue correndo nas veias... Vc sabe tocar como ninguém, sem rasgação de seda VC é FODA!!! é minha musa... nunca vou me cansar de te olhar, de ler, de aprender!!!!´eu só agradeço por esse encontro! com amor e admiração
    Camis

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  3. Vim ao mundo para encontrar grandes mulheres, vcs me emocionam, me dão coragem pra seguir. Muito grata!

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