sábado, 9 de março de 2013

A CARTA DA CASA | E que seja hoje.


Foto de Viviane Fracari




Inspirado na sequência: 
A Imperatriz - A Torre - O Mundo - O Sol.
Para: C. M. I.




Preste bem atenção, a lição é simples.
Lápis e caderno na mão. Faça com cuidado sua anotação.
Cuidado para não acertar.
A regra aqui é errar.
Erre bastante!
É provável que você se machuque, alguns ferimentos são bem-vindos.

Quando mergulhamos na piscina vazia, a piscina ainda é piscina.

Não adianta esvaziar.
Não adianta mergulhar às cegas com a cabeça na pedra.
Não adianta.
Precisamos quebrar os azulejos.
Encher de terra o buraco.
Precisamos cimentar até à superfície.

Esvaziar a piscina não é o bastante.
Temos que extinguir a piscina.
Enquanto ela existir, mesmo que vazia, mergulharemos nas suas águas.
Iludidos, alucinados, mergulharemos mesmo já tendo esvaziado.

Conheço a lição.

Depois de ter quebrado os braços, os dentes e o pescoço.
Transformei a piscina em deserto de concreto.
Senti saudade da água e principalmente saudade do mergulho.
Mas não quero mais mergulhar tão fundo.
Quero um banho de banheira bem quentinho.
Um mergulho seguro nas águas de um útero.
Quero já nascer nadando.
Quero já nascer íntima das águas.

Até que um dia, e que seja hoje, a piscina fique rasa perto do meu tamanho.
Quero estar tão crescida, que lá, onde um dia eu mergulhei fundo, brincarei tranquila.
Meus pés tocarão o chão.

Agora dá pé!

Nenhum comentário:

Postar um comentário