sábado, 17 de agosto de 2013

POSTAIS | Emenda - Para Eduardo Bartolomeu

Que menino bem arrumado.
Sim, ele está bem arrumado!!!
Sem as calças. Quer sair por aí só de cueca.
Sua tia não deixa, sua irmã morre de vergonha.
Então, ele se tranca no quarto, faz birra, reclama.
Quer sair com o casaco novo e com a cueca, que também é nova, e é bela.
Vai sair escondido pela janela.
A janela é alta, a casa é assobradada.
Ele pula, se esborracha no chão, quebra a jardineira, bate a cabeça, o galo canta e assusta a vizinhança.
Prende o choro e solta os cachorros.
Rasgou a cueca, vai remendar.
Vai colar os cacos da jardineira de barro e replantar as camélias.
Vai se desculpar com os vizinhos pelos latidos vulgares de sua fúria.
Vai colocar cubos de gelo na crista do galo.
Vai baixar a crista.
Vai passar os dias se ocupando em restaurar o impulso de pular.
Depois de seu resguardo, veste novamente o casaco, olha-se no espelho e se espanta ao ver os pelos crescidos em suas pernas.
O remendo da cueca é cicatriz na virilha que o tempo esconde por debaixo dos pelos.
Que homem bem arrumado.
Veste as calças, pede a benção da tia, abraça a irmã e sai pela porta da frente.
Ele tem um encontro com sua namorada e não quer chegar atrasado.

TEXTO INSPIRADO NA SEQUÊNCIA: O ENAMORADO - A CASA DE DEUS - A TEMPERANÇA - O CARRO.


Nenhum comentário:

Postar um comentário