domingo, 20 de março de 2011

Constatação | Missiva pra Camila e ViviS

Lá estão elas...
uma recolhe os destroços, lança os ossos aos cães, enquanto a outra recicla a velharia e costura fuxicos para botar no vestido.
De noiva?
Não sei,
respondeu a outra

Uma vasculha no escuro o quê sobrou dos entulhos.
Uma outra caminha de lá pra cá, feito barata tonta, num mal me quer bem me quer infinito, despetalando as margaridas.

Do buquê?

Não, do seu canteiro mesmo, pode ser?

Tolerante e silenciosa, uma delas despeja em uma panela, água para fazer um café. Pacientemente aguarda o tempo da fervura, aguarda o tempo de coar, ver o pó molhar para depois escaldar o bule, servir, saborear...ela está concentrada em seus procedimentos, organizando as horas, formatando a medida exata de seus desejos.
A outra destrambelhada, derruba e quebra as xícaras de porcelana, escorrega  na poça de café, cai e torce o pé. Chora, grita, xinga. A outra  lhe bota no colo, pedra de gelo, atadura, arnica e cânfora. Agora ela descansa.

Quer dormir aqui? Quer deitar na minha cama?

Não, chama um táxi, quero ir embora.

Que sejam feitas as vontades.
Uma pulando que nem saci, pega o táxi, volta pra casa resistindo a dor, superando os obstáculos, provando seu valor, ficando só com seus sofrimentos. Equilibrando o peso de seus desalentos.
A outra recolhe os cacos, limpa o chão, guarda a panela, fecha o fogão. Deita em sua cama, faz uma prece, agradece. A lua desce, a noite segue e na soturna madrugada a vida se prepara para surpreendê-las na alvorada.
Bons sonhos...

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